Santa Rita de Jacutinga é uma cidade mineira localizada bem próximo à divisa com estado do Rio de Janeiro. A cidade tem mostrado um ótimo potencial para a prática de “esportes ecológicos” como rapel, off-road, rafting, trekking, cavalgada e vôo de asa-delta. O maior orgulho de Jacutinga é o fato de suas terras serem agraciadas por nada mais que 72 quedas de água ao longo de seus rios! A gravação de duas novelas (Terra Nostra e Abolição) em uma de suas fazendas fez com que cada vez mais pessoas descobrissem essa jóia do ecoturismo escondida nas terras mineiras.
Estimulado por uma reportagem de jornal, resolvi passar o feriado de sete de setembro em Santa Rita de Jacutinga. Ao todo foram mais cinco pessoas: Kátia (minha namorada), Fernanda (minha “cunhada”), Júnior (meu primo), Roni (Tio da minha namorada) e Verônica (amiga).
Nós partimos do Rio de Janeiro na quinta feira em dois carros. A Kátia, a Fernanda e o Júnior foram no meu carro, já a Verônica foi no carro do Roni. Nós iniciamos a viagem por volta de 16 horas e quem leu os noticiários do feriado deve se lembrar que ocorreu um problema estrutural com a Linha Vermelha, um dos acessos principais ao Rio de Janeiro. O resultado disso foi um engarrafamento de proporções gigantescas que me fez demorar 2 horas e meia para chegar na Rodovia Presidente Dutra! Felizmente assim que cheguei na Dutra o tráfego melhorou muito e a viagem seguiu tranqüilamente.
O caminho que se faz do Rio de Janeiro até o “buraco” chamado Santa Rita da Jacutinga é o seguinte: após aproximadamente 100 Km de Dutra, deve-se virar na primeira entrada para Volta Redonda, seguir em direção a Nossa Senhora do Amparo e de lá prosseguir por 30 Km de terra até a cidade. A distância total é de 190 Km e pode ser feita por carros “mortais”, ou seja, que não são 4X4. Só não aconselho carros rebaixados, por motivos óbvios.
Nós chegamos em Jacutinga às 22 horas, debaixo de uma chuva bem fina. Tínhamos reservado uma área de camping dentro de uma pousada (Pouso de Minas) e a primeira coisa que fizemos foi procura-la para arrumarmos as barracas. A infraestrutura da cidade para a hospedagem é precária. Haviam poucas pousadas além da nossa e não encontramos uma área exclusiva para camping. O ideal é ligar antes para alguma pousada e reservar um quarto ou um lugar para acampar.
A sexta feira amanheceu chuvosa e fria, acabando com todas as perspectivas de visitas as cachoeiras da cidade. Resolvemos, então fazer um passeio na Fazenda Santa Clara, aonde foram gravadas as novelas Terra Nostra e Abolição. A entrada custa R$ 5, mas vale muito a pena! A atual dona da fazenda conta toda a história da propriedade que se confunde muito com a história do Brasil. Ela mostra o lugar aonde os mais de 2000 escravos da fazenda eram castigados (ainda existe as marcas de unhas nas paredes feitas pelos negros para suportarem as dores sem gritar), o local onde os escravos angolanos se reproduziam (para aumentar o número de escravos, cada homem recebia nove mulheres), as dependências da fazenda (com suas 365 janelas!) e, claro, os cômodos aonde foram gravadas as cenas das novelas.
Na sexta à noite decidimos ir ao centro para ver como era a “night” da cidade. Para a nossa surpresa havia alguns bares tocando música e uma discoteca, isso mesmo, uma DISCOTECA dentro de um clube. Coincidentemente encontramos um grande amigo (o Levedo, para os íntimos) que morava no meu prédio no Rio e que também estava lá conhecendo a cidade. Nós entramos em um bar e ficamos cantando ao som de um violão até o sono bater. Foi muito divertido, além das expectativas para um lugar tão pequeno.
Para a nossa alegria o sábado amanheceu com um sol maravilhoso e nós tratamos de visitar as belezas naturais de Jacutinga. Nosso primeiro destino foi o Boqueirão, o cartão-postal da cidade. O Boqueirão é um lindo cânion de 66 m de altura. Para se chegar até ele é necessário andar uns 10 Km de carro do “centro da cidade”. Quase não existe sinalização na estradinha de terra, portanto o velho ditado que diz “quem tem boca vai a Roma” é de grande valia nesse caso. Um pouco antes de chegar no Boqueirão existe a cachoeira dos Meirelles. Essa cachoeira possui duas quedas de água e no final dela uma linda “piscina natural”, ótima para um mergulho. Nós paramos para curtir um pouco a paisagem. Dessa cachoeira até o Boqueirão deve-se andar mais 1 Km de carro e depois fazer uma caminhada leve de 15 minutos.
O Boqueirão é simplesmente espetacular! Entre as duas colunas do cânion passa um rio que logo na frente forma uma piscina natural com uma cor verde escura que, apesar de ser bem gelada, é ótima para o banho. Logo depois, seguindo o curso do rio, existem duas cachoeiras. A combinação do cânion com a piscina natural e as duas cachoeiras forma uma das paisagens mais pitorescas que já presenciei na minha vida!
Depois do Boqueirão nós fomos a uma cachoeira que tínhamos passado na volta da Fazenda Santa Clara no dia anterior. Apesar de muito bonita, o fundo do rio naquela parte era muito lodoso, parecido com um mangue, e resolvemos não entrar. No caminho de volta nós nos deparamos com mais de 20 araras voando perto da estradinha. Nós descemos do carro e ficamos apenas observando a graça majestosa daqueles magníficos animais que só estamos acostumados a ver apenas confinados a uma gaiola. Aliás, Santa Rita de Jacutinga deveria ser declarada a cidade oficial dos pássaros! Não é necessário fazer muito esforço para avistar lindas aves com várias formas e diversas tonalidades de cores. A cada árvore encontrávamos uma espécie mais bonita do que outra.
No domingo eu e a verônica acordamos 5:30 da manhã para fazer o rapel que tínhamos reservado para as sete horas no Boqueirão. Esse foi o único horário que conseguimos, todos os demais já estavam marcados. Reservar coisas em Santa Rita é o que há! Como a cidade é pequena, tudo lota rápido. Toda atividade, do camping até os esportes, deve ser planejada e agendada com os donos das pousadas.
Àquela hora da manhã estava muito frio, mas conforme nós começamos a subir em direção ao topo do cânion, a adrenalina ia fazendo o frio ser substituído por tensão. Essa seria a nossa primeira vez e iríamos iniciar justamente em um lugar com 66 m de altura! Lá em cima nós ficamos batendo um papo com o instrutor e acabei descobrindo que, assim como eu, ele é um biólogo. Essa informação só me fez ficar mais nervoso, pois conheço biólogos o suficiente para saber que 99% deles são completamente malucos (eu, obviamente, estou no 1% que se salva). O rapel no Boqueirão é dito negativo, ou seja, a pessoa não se encosta à rocha para descer. Os instrutores levam a pessoa para o meio através de uma corda de aço que foi amarrada entre as paredes do cânion. Eu, como um bom cavalheiro, deixei a verônica descer na frente. A cara de choque que ela fez já me fez imaginar o que iria enfrentar… Assim que os meus pés saíram da rocha e eu vi o abismo abaixo de mim, fiquei com uma reação de pura perplexidade, diante de tanta beleza e adrenalina juntas. Fiquei um tempo parado até conseguir me acalmar e comecei a descer. Quando estava na metade do cânion, diversos passarinhos começaram a passar pelo meu lado. Imaginei que eles poderiam estar pensando: “o que faz um primata idiota não alado aqui no ar?” Pensei um pouco na possível resposta que daria a eles, mas nada veio a minha mente naquele momento…
Quando voltamos do Boqueirão só nos restou tempo para terminar de arrumar as coisas e pegar a estrada de volta para o Rio. Deixamos de fazer um lindo passeio conhecido como “Trilha das Cachoeiras” que dizem ser muito bonito. Oportunidades é que não vão faltar para voltar a esse paraíso ecológico que está florescendo bem perto da cidade maravilhosa.
OBS1: Só gostaria de fazer uma última consideração: se você tem um metabolismo acelerado, emite muito calor e libera muito CO2, se prepare, você vai ser atacado por carrapatos em Santa Rita de Jacutinga! Eu virei o menu principal desses aracnídeos cretinos, mas até que a convivência com eles não foi muito desagradável.
OBS2: O Telefone da “Pouso de Minas” é (21) 2549 6714. Você pode reservar através do site também: http://www.pousodeminas.com.br . A pousada fica a 4 Km de distância do centro, mas dizem que é a melhor delas. Eu não tenho o que reclamar. A comida estava muito boa e a recepção foi excelente. O único problema é a área restrita para o camping, mas como só havia mais uma barraca além das nossas não houve problemas de congestionamento. A Pousada da Jacutinga também oferece espaço para camping.
Autor: Régis Lopes.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: Rio de Janeiro – RJ
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