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Aventuras nas Serras Gaúchas

Deixei Novo Hamburgo para trás numa tarde ensolarada de sábado, depois de um dia de chuva – pelo horário do ônibus, era a última chance de chegar em Gramado de dia. Embarquei num pau-de-arara (pinga-pinga) que levou quase 3 hs para fazer os 60 Kms. Uma ótima chance para testar a paciência e o bom-humor. Dei risada em boa parte da viagem – como diria Arnaldo Baptista: “louco é quem me diz que não é feliz”.

Já próximo a Gramado, o ônibus cortava a serra lambendo os paredões de pedra. A altitude nos fez penetrar literalmente nas nuvens. Às vezes as nuvens se abriam mostrando vales verdes de floresta nativa. Algumas nuvens pesadas coroavam os morros e prenunciavam mau tempo, bem diferente do céu azul que deixei em Novo Hamburgo. Uma fria chuva fina me recepcionava ao cair da noite em Gramado. Um telefonema e o reencontro de um velho amigo 20 anos depois rende uma noite de bom vinho e histórias de aventureiros e pescadores.

No domingo de manhã nublada, a umidade da neblina se transformava em gotas de cristais nos galhos nus do pessegueiro, enquanto isso a chaleira chiava sobre as brasas do fogão-a-lenha. A umidade estava no ar, mas a chuva já estava longe. Saímos a procurar cascatas e encontramos até um tucano voando livre pelas matas da cidade. São poucas as cidades que você encontra tucanos, cascatas e matas entre as casas. E que casas! Gramado é um banho de arquitetura e paisagismo em harmonia com a natureza e o clima frio.

À tarde o Sol resolveu dar as caras e nos proporcionou um belo passeio; do Lago Negro ao Mini Mundo, passando por muitas outras belezas da Cidade das Hortênsias. No fim da tarde de domingo, muita gente e muito charme nas ruas do centro de Gramado, onde o inverno é motivo de festa. Mas o Sol se recolheu mais cedo e tudo indicava mais uma noite fria e úmida. Dormimos cedo.

Segunda-feira, 6:30. A Lua minguante estalava no céu prenunciando a aurora. Quatro graus, marcava o termômetro na avenida, cumpri a minha sina de andarilho colocando a mochila nas costas e o pé na estrada em direção a Canela. O Sol acordava lentamente prateando os gramados e transformando o orvalho em neblina. Escapando da paisagem urbana contemplei alguns vales cobertos de nuvens e ponteados de araucárias. Morros e abismos se perdiam no horizonte sem fim, onde a Terra encontra o céu num azul acinzentado. Só andando a pé se podem notar estes detalhes.

Na estrada, passei por um famoso acidente de trem ocorrido em Paris – 1895 (www.mundoavapor.com.br).

Não demorou muito e estava chegando a Canela – o tempo passa rápido quando a viagem é boa. Tomei a direção do condomínio e hotel Laje de Pedras. Mais um show de arquitetura, paisagismo e harmonia com a natureza. Uma contemplação no Vale do Quilombo, de onde você pode tocar o infinito com os olhos; as lembranças de uma vez que fui numa boate no hotel Laje de Pedras e conheci a única japonezinha linda que tenho lembrança analista-de-sistemas de Sampa a Equipe de Resgate da Força Aérea tem suas vantagens. Na volta, uma pausa na Praça do Lago para olhar os cisnes se exibirem num nado sincronizado.

Depois de pegar informações turísticas no centro de Canela, tracei meu roteiro. Tomei a direção do Parque das Sequóias e me embrenhei numa estrada de chão cercada de mata, rumo ao Morro Pelado. Uma hora de caminhada e comecei a desconfiar que não era tão perto como me disseram e o tempo de percurso poderia comprometer o meu principal objetivo: acampar na base da Cascata do Caracol. Cheguei à conclusão de que era tarde demais para voltar, iria até o fim da trilha, mesmo que tivesse que alterar o cronograma. Depois de mais alguns altos e baixos finalmente cheguei ao mirante do morro e pude ver que valeu o sacrifício. Um gramado, duas árvores fazendo sombra num banco de praça que fica de frente para um abismo sem fundo, de onde se avistam vales e serras até os limites do horizonte. Alguns paredões de pedra enfeitados com mata nativa costeavam o morro. Um solitário gavião campeiro flutuava no azul do céu. Só o ruído do vento e de corredeiras muito distantes, no fundo do vale, quebravam o silêncio. E eu ali, dono do mundo e maravilhado com a grandiosidade da paisagem.

A volta foi mais rápida. Passei no mercado para comprar os mantimentos para a noite e tomei o rumo do Parque do Caracol. Mais uma vez não pude contar com a companhia do Sol que se escondeu no meio da tarde. Não havia ônibus, mas duas caronas me deixaram no parque. A última, pendurado num trator, não foi das melhores mas salvou o cronograma. Cheguei meia hora antes de fechar o parque (17:00). Não tive tempo para maiores explorações, apenas uma olhada para recordar o mirante da cascata.

Num cartão postal ninguém consegue ter a dimensão da grandiosidade desta queda d`água, só estando ali. Apressei-me em começar a descer a escadaria (quase 1.000 degraus) para acampar lá em baixo. Já no final da descida eu comecei a perceber que o grande volume de água das últimas chuvas e os ventos que varriam o vale, transformavam a cascata numa chuva constante sobre a sua base. Mais uma vez era tarde demais para voltar. Precipitei-me em descer neste horário pensei bem feito, ouvi só o coração (sempre sonhei em acampar na base desta cascata) e ignorei a razão mas o aventureiro sempre tem que ter alternativas para os imprevistos e comecei a pensar na possibilidade de acampar nos mirantes da escadaria, porque subi-la de volta seria muito penoso pior que subir um prédio de 50 andares pela escada e com uma mochila nas costas além de chegar ao topo no escuro. Por sorte encontrei uma pequena cabana abandonada, muito úmida e cheia de pedaços de madeiras e cacos de vidro. Uma boa limpeza foi suficiente para improvisar um abrigo e armar a barraca lá dentro. Na janta comi o mais gostoso pão com salsicha de que tenho lembrança e uma banana de sobremesa. Depois fui dormir com a chuva pesada da cascata embalando meus sonhos. Foi uma noite úmida, mas para quem já fez sobrevivência no mar, foi mole.

Acordei com muito bom-humor às 6:30, comi as bolachas recheadas a seco, pois a água da garrafa tinha acabado na noite anterior e comecei a arrumar as coisas. Desci mais uma vez até o ponto mais próximo da queda d`água me protegendo da chuva com a cobertura da barraca e me despedi fazendo algumas fotos na manhã fechada pela neblina. Encarei os “50 andares” subindo aos poucos e curtindo a paisagem de dentro da mata fechada, que reveste as paredes do vale. Já no topo, fiz um passeio mais detalhado pelas trilhas do parque, que serviu para conhecer diversos ângulos interessantes do riacho que se precipita no abismo. Depois de uma manhã como esta é que a gente lembra porque vale a pena estar vivo.

Uma carona na saída do parque me levou de volta a Gramado, de onde tomei um ônibus para Caxias. Mais uma paisagem na neblina, na saída nublada por uma cerração que envolvia a cidade como um véu de noiva. Se o tempo não estava perfeito e o Sol não estava radiante, pelo menos não estava chovendo. Na estrada as coisas começaram a clarear e em Nova Petrópolis já tinha sol. Adiante, o ônibus desce costeando um vale com uma paisagem cinematográfica. Ao longe dá para avistar uma cascata rasgando a encosta do outro lado do vale. PAREM O ÔNIBUS QUE EU QUERO DESCER, este trecho tem que ser feito de bike pensava eu.

Em Caxias, um lanche na praça central observando os nativos darem milho aos pombos e jogarem conversa fora. Depois mais um trecho de estrada até Bento Gonçalves. Um passeio no calçadão; canteiros de flores e estruturas de aço-e-vidro dão um charme no centro da city. À tardinha, o embarque para Porto Alegre e o sono do fim da viagem, junto com o cair da noite e a sensação da missão cumprida.

Agora estou voltando pra casa, um pouco cansado e muito satisfeito. Como sempre.

Autor: Celso Afonso.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: Serra Gaúcha – RS

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Escrito por Mauricio Oliveira

Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.

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