Para debute desta coluna, proponho uma reflexão: Afinal, o que seria esse tal “turismo” que muitos alegam conhecer, mas poucos verdadeiramente o compreendem?
Certa definição diz que:
“Turismo significa viajar para longe da nossa origem, dos nossos lares, para moradas que não são as nossas, mas que foram construídas especificamente para nós, turistas; para lugares onde pisamos o sustento da vida de “outros”, um tanto humanos quanto não-humanos. O mundo é um palco, e nós implacavelmente procuramos satisfazer nosso desejo, avançando através do globo para experimentar esses “outros” – culturas, natureza, panoramas, sons e cheiros -, para ver cenários incomuns, para explorar o desconhecido, o estranho, o “mágico” – o não-aqui. ” Stephen Wearing e John Neil
Analisando por essa perspectiva, percebo que nós, seres humanos, somos naturalmente motivados pela curiosidade, pela busca do incomum, do diferente do nosso meio. Essa gana pelo conhecer mais, é um estímulo para as inovações, invenções e também para o viajar, por que não? Sem querer me aprofundar nas questões “maslowianas” de necessidades, entendo que é durante esse viajar, no viver aquele “outro mundo”, que encontramos algumas satisfações almejadas durante toda nossa vida.
Considerar o turismo um deslocamento de pessoas do seu habitual local de vivência para outro, em um determinado espaço de tempo*, é uma maneira simplista de se encarar o que é considerada hoje, a atividade econômica que mais cresce no mundo.
A logística que envolve o turismo é muito mais do que o lazer e bem-estar do turista apenas. Existem várias etapas e/ou setores dentro da atividade turística que possuem funções específicas dentro da sua sistemática de produção. Desde o planejamento até o receptivo, transporte, atrativos, setor de serviços em geral, todos estão interligados para que se chegue ao produto final do qual o turista irá usufruir.
Entretanto, para que essa “indústria” turística funcione de maneira harmoniosa e eficiente, se faz necessário o trabalho de profissionais capacitados atuando nesse mercado. Particularmente no Brasil, o amadorismo ainda impera no turismo, o que traz ineficiência para a atividade.
A profissão de turismólogo, aquele que é o verdadeiro profissional do turismo, está longe de ter sua devida importância reconhecida pelo setor turístico nacional. Como exemplo, cito a forma como alguns empreendimentos hoteleiros encaram o turismólogo ao contratá-lo; majoritariamente, suas funções são dirigidas aos setores de recepção e reserva de um hotel. Ora, não é intenção minha levantar uma “bandeira” pelos recém-formados, a fim de que estes consigam altos cargos e o reconhecimento de uma empresa baseados apenas em seus diplomas. Mas sim, que se faça uso de suas habilidades em funções que correspondam aos ensinamentos e experiências adquiridas durante sua graduação.
Trabalhar com o turismo, ao contrário do que muitos pensam, não é viajar e ser um profundo conhecedor da geografia política mundial.
– Você estuda turismo para viajar?;
– Quando se formar, vai ser guia de turismo ou abrir uma agência de turismo?;
– O que você aprendeu na faculdade? Geografia e inglês?
– Quem se forma em turismo é viajante?
Frases como estas são comuns de ouvir quando se estuda turismo, afinal, nem perante à lei, nós, turismólogos, temos uma regulamentação definida e decretada, quem dirá frente à sociedade ainda mal esclarecida do assunto. Hoje, vivemos uma realidade na qual, como em outras profissões ainda sem regulamentação, seus profissionais ficam a mercê de um mercado que está disponível aos mais experientes e/ou competentes, mesmo que estes não sejam necessariamente graduados para seus respectivos cargos.
Enfim, para nós turismólogos, estudar o turismo é uma necessidade. Entendê-lo, um desafio. E, sermos reconhecidos como uma classe trabalhista, uma batalha diária e contínua.
* Há divergências entre vários autores quanto a esse tempo específico;
Leandro Guedes Leite Gazola, mineiro de Varginha, é turismólogo formado pela PUC-Minas Poços de Caldas (2006). Atualmente trabalha com consultoria virtual para viagens pela América do Sul.
Autor: Leandro Gazola
E-mail: [email protected]
Site: https://www.trilhaseaventuras.com.br
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