Depois de horas de exercício sob sol forte, o atleta tem uma etapa de travessia de rio ou rafting, por exemplo, ou muitas vezes surge uma “chuvinha”, geralmente fria. Em muitas provas essas ações são muito fortes e de longa duração. Mesmo que o sol e o calor não pareçam intensos, devem ser evitados ao máximo.
Suas ações são acumulativas e perigosas. O atleta pode insidiosamente se tornar um candidato a queimaduras, desidratações graves e/ou hipertermia. Em locais com vento forte (mesmo o vento relativo de trechos de ciclismo, rafting ou canoagem) ou ambientes molhados como rafting, canoagem e natação, a ação do sol é menos percebida e surgem importantes queimaduras de pele que só são percebidas tardiamente. O atleta nas corridas de aventura, sob sol intenso, deve usar protetor solar, protetor labial, bonés, lenços para a parte posterior do pescoço, além de camisas e calças especiais.
Devem ser escolhidos protetores solares sem base oleosa ou gel, no sentido de não comprometer a sudorese, importante para a termoregulação. Devem ser aplicados de preferência na pele seca, que absorve componentes importantes presentes nos bons protetores. Seu efeito não é apenas de uma barreira física ao sol, mas também química. A aplicação desses cremes deve ser contínua. O suor, a chuva, garoa, umidade, respingos de água, banhos, água de rios e mar e o próprio atrito com a vegetação e com a roupa podem continuamente diminuir a camada de creme que protege a pele. Mangas longas e proteção do pescoço e das pernas são importantes. É fundamental que as roupas sejam de cor clara e tecidos que permitam a transpiração.
O lençol de alumínio é extremamente útil sob o sol escaldante. Pode ser usado como uma capa, sob sol ou calor extremo, no sentido de refletir a luz solar e diminuir a recepção de calor pelo corpo.
Deve-se evitar ingerir alimentos quentes sob condições de muito calor. Alimentos frios ajudarão no controle térmico corporal. Deve-se também tentar molhar constantemente o corpo.
Após horas de exercício sob sol forte, o atleta, com o corpo extremamente quente, pode ser atingido por uma chuva ou mesmo a água de rio ou mar, dependendo do esporte em questão. Dependendo da intensidade do exercício e do calor ao qual o atleta foi submetido, a exposição súbita a esse contraste de temperaturas pode trazer uma sensação de “mal-estar” importante, semelhante àquela que precede os estados gripais.
Esse “choque térmico”, geralmente sem maiores consequências, às vezes “abate” o atleta, com maior ou menor intensidade. Portanto, sempre que possível, antes de receber uma chuva muito fria com o corpo muito quente, o atleta deve refrescar-se progressivamente.
Desidratação e perda de sais minerais
A sudorese é um mecanismo importante para o controle térmico corporal, agindo como um meio de dissipação do calor. Em locais onde há alta umidade relativa do ar (por exemplo, próximo a praias ou matas com muita “umidade”), esse controle térmico pode ser mais difícil, aumentando a possibilidade de “hipertermia”.
Sob calor intenso e exercício forte, surge o suor excessivo. Isso pode levar à desidratação e perda importante de eletrólitos (conhecidos como “sais minerais”), principalmente de sódio. A tendência é o atleta tomar muita água e não repor adequadamente essa perda de “sais”. Pode surgir então a chamada “hiponatremia” que é uma diminuição da concentração de sódio no sangue. Um dos primeiros sinais disso são as câimbras generalizadas e persistentes, mesmo nos atletas bem treinados (e comumente esses atletas não entendem por que estão com tais câimbras).
Assim, a hidratação deve ser não apenas com água, mas sim com as chamadas bebidas isotônicas, que irão repor principalmente a água e os eletrólitos perdidos. Diante da não disponibilidade dessas bebidas isotônicas esportivas, deve-se ingerir, além da água, pequenas quantidades de alimentos salgados (salgadinhos, batatas fritas, amendoim, etc..).
Dica – Diluindo-se uma colher de chá rasa de sal e uma colher de sopa de açúcar em um litro de água, obtém-se um bom reidratante.
Essa perda de sais pode ser importante, mesmo sem desidratação, e além das câimbras podem surgir dor-de-cabeça, fadiga excessiva, dores musculares, náusea, vômitos e diarreia. A pele do atleta geralmente está muito quente e vermelha. Outro sinal sutil é diminuição da diurese, ficando a urina cor amarelo forte (“urina concentrada”).
Por outro lado, a sede é um sinal um pouco “atrasado” de que o corpo precisa de água. Quando ela surge, normalmente já existe uma leve desidratação. Assim, durante as provas, não se deve esperar por ela para se ingerir líquidos. A hidratação deve ser a melhor possível. Havendo disponibilidade de água ou líquidos, deve-se ingeri-los em grande quantidade, obviamente sem exagero, mesmo antes de surgir a sede. Estudos mostram que dessa forma a resistência à privação de água será maior. Deve–se evitar líquidos excessivamente doces e /ou gasosos.
Situação grave: hipetermia
O corpo humano tem um mecanismo de controle da sua temperatura, chamado Mecanismo Termorregulador. Ele envolve estruturas nervosas e químicas no cérebro, medula espinhal e por todo o corpo, além de receptores especiais de temperatura. Nossa temperatura central deve ser mantida rigorosamente entre 36,5 ºC e 37º C. Acima e abaixo desses limites, surgem disfunções orgânicas, às vezes com consequências trágicas. No caso da hipertermia, quando o atleta atinge mais de 41º C de temperatura central, surge sério risco de vida.
A Hipertermia é definida quando o corpo atinge altas temperaturas, com risco de vida. Nessas situações o calor produzido pelo trabalho muscular, pela ação do sol e por altas temperaturas ambientais ultrapassa a capacidade do corpo de dissipá-lo. Normalmente o atleta faz um exercício intenso e prolongado, sem adequada hidratação e/ou adequada transpiração.
O Mecanismo Termorregulador corporal entra em falência e surgem sinais como irritabilidade, confusão mental, falta de autocrítica, incoordenação motora, delírio, coma e às vezes, morte. A pele do atleta geralmente torna-se muito quente e vermelha (parecendo febril), às vezes com calafrios (mesmo em ambientes quentes).
O suor é intenso, até o momento em que surge a desidratação, ficando assim sua pele paradoxalmente seca. Essa é a fase mais perigosa, uma vez que a ausência de sudorese não permite adequada perda de calor, colocando o atleta em risco de vida pela hipertemia grave. Nessa fase cessa a atividade motora e o atleta deve ser imediata e rigorosamente tratado.
Prevenção e tratamento da Hipertermia – A melhor forma de enfrentar a hipertermia é não permitir que ela surja, evitando ao máximo a exposição ao calor, com adequada hidratação, se possível molhando o corpo, usando roupas adequadas e mantendo – se atento a todos os sintomas relatados acima. De qualquer forma, o atleta que pareça estar em hipertermia deve rapidamente ser retirado do ambiente quente, receber compressas frias, se possível líquidos frios lentamente por boca e imediatos cuidados médicos. Em última na análise, quando o atleta estiver muito “quente”, ele deve ser “esfriado” .
Aclimatação ao calor – Quando a competição é num local muito quente, seria interessante chegar ao local dias antes e submeter-se às condições ambientais da prova, sem exercícios intensos. O corpo inicia uma adaptação fisiológica, mudando o volume de sudorese, diminuindo a concentração de sais no suor e melhorando o controle da temperatura. Normalmente, a aclimatação se completa em 07 a 10 dias. Pudemos observar isso na EMA Amazônia 2001. Quando lá chegamos, o calor era quase insuportável. Dias depois, apesar da temperatura nem a umidade do ar ter diminuído, suávamos menos, havia melhor disposição física e a situação ficou bem mais “suportável “.
por Clemar Côrrea
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