Em meados de março deste ano, resolvemos que nossas férias de julho não se resumiriam a mais uma simples viagem de curtição. Com isso, elaboramos e desenvolvemos um trabalho de pesquisa no litoral do Maranhão e do Piauí, intitulado “De Olho no Brasil – Ecoturismo no Litoral, MA & PI”. Buscamos informações escondidas em regiões brasileiras não muito divulgadas.
Tais lugares criam paisagens que, de tão cruas e selvagens, com tanta vida e expressão, são únicas. Logo, não queremos que essa dádiva seja destruída. Com isso o objetivo do nosso trabalho foi fazer um levantamento do potencial ecoturístico, da ótica da sustentabilidade, visando assim a preservação e integração sócio-cultural, ambiental com o desenvolvimento.
Percorremos os litorais de ponta a ponta. Entretanto, nos atentamos para as porções mais desconhecidas, ou seja, Alcântara, São Luis e o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses não foram nosso enfoque, não obstante nos tenha fascinado.
Para vivenciarmos todos os sentimentos e realidades daquele incrível meio, tivemos que nos desapegar de uma série de comodidades e facilidades de nossa rotina urbana e capitalista. A premissa foi mergulhar de corpo e alma naquele oceano multifacetado, utilizando os mesmos meios que as comunidades dispunham: comendo suas iguarias, ouvindo suas músicas e sentindo não apenas sua rotina, como também seus anseios.
Carutapera
Começamos na divisa do Maranhão com o Pará, em uma pequena cidade chamada Carutapera – cidade que é formada por gente que traduz em suas faces as raízes de nosso Brasil. São índios, contudo, miscigenados aos negros e europeus.
O lugar, até pouco tempo atrás, era um tanto isolado, já que a estrada se encontrava em péssimas condições. Era de terra, totalmente esburacada. Hoje, o acesso é melhor. A mesma estrada foi pavimentada, criando um vislumbre de desenvolvimento econômico para a comunidade que chega a apostar no turismo. Quando chegamos no lugar, parecíamos ET’s. As donas de casa deixavam seus afazeres domésticos e corriam para as janelas, as crianças largavam seus brinquedos e até os comerciantes se esqueciam dos compromissos. Por cada ruela que passávamos, nos deparávamos com olhares curiosos e ao mesmo tempo receptivos.
Todos queriam saber mais sobre os “forasteiros”. Seguimos direto à prefeitura para nos informarmos melhor a respeito dos atrativos da cidade. Lá, nos recomendaram falar com o padre da cidade.
Padre Mário, italiano, está lá há mais de 30 anos. É possuidor de uma vivência marcante sobre a cultura caiçara. Ele foi praticamente nosso guia de turismo, nos mostrou a realidade local.
Fomos até um galpão, no qual mulheres esperavam pacientemente pelos caranguejos, dos quais deveriam retirar toda “polpa” e receberiam R$ 1,00 pelo quilo da carne, enquanto que o mesmo caranguejo é vendido nas praias de Fortaleza-CE por valores que variam de R$ 1,00 até R$ 1,50 a unidade do crustáceo.
Contudo, o mais peculiar, é que esse padre instalou altos-falantes nos quatro cantos da cidade e, todos os dias, acordava as pessoas às 6h com orações e músicas católicas. Além disso, sempre aproveitava para dar recados e informações úteis à comunidade.
No final, ainda nos ofereceu sua casa de praia, situada em um lugar deslumbrante chamado Ilha de São Pedro. Nos ofereceu a chave da palafita (a região sofre enormes influências da maré) e pediu para a deixássemos com a vizinha ao final da estadia, já que seguiríamos por outros rumos.
O lugar é uma pequena vila de pescadores. Uma gente simples e hospitaleira, que ali permaneceu resistindo às mudanças impostas pela natureza. As características geográficas mudam conforme a ação das marés, dos ventos, das dunas e do clima, como um todo. A “pancada”, a praia de lá, é simplesmente estupenda, e o que é melhor: deserta. Isto, tanto pela raríssima – quase nula – presença de turistas, como pela cultura diferenciada.
Para eles, a praia possui outro significado, diferente do que estamos acostumados: é sinônimo de trabalho e subsistência. É gozado, mas as pessoas evocavam até estranheza quando passávamos horas curtindo a praia. Tudo isso, sem contar a riqueza da fauna e flora com revoadas de centenas de guarás nas florestas de mangue que completam o cenário da ilha.
Passamos a final da Copa do Mundo neste lugar. Uma experiência cultural pitoresca. Já no início da viagem, estranhamos a quantidade enorme de óleo diesel que estava sendo transportada no barquinho já abarrotado. O motivo: fazer o “motor”, o gerador, funcionar mais do que usualmente – afinal, o jogo é imperdível.
A comunidade, que não passa de 100 pessoas, se reuniu nas casas que gozam de uma televisão e assistiu compenetradamente a cada lance. Por fim, a festa não foi diferente do que qualquer parte do país: muita cerveja, dança e fogos.
Aproveitamos o restante do dia para explorarmos mais a ilha e resolvemos seguir pela praia. As marés do Maranhão apresentam as maiores oscilações do país, chegando a variações de seis metros e atingindo, às vezes, 400 metros de recuo nas praias. Tal fato proporciona mudanças fantásticas nas paisagens. Ondas cedem lugar a pequenas lagoas repletas de moluscos e siris, além de pequenos peixes que só se verão livres na próxima maré cheia.
A questão da água
Rios e igarapés secam completamente. Atravessamos um desses rios secos, preocupados com seu enchimento, pois a maré estava forte, o rio era largo, e poderíamos ficar isolados, – ou até mesmo sermos arrastados na volta, pelas cheias. A vontade de desbravarmos falou mais alto.
Atravessamos o rio, superamos um verdadeiro viveiro de caranguejos com lama até a cintura e seguimos em frente, até encontrarmos três nativas no meio do nada.
Elas eram tão singelas e pareciam perdidas em meio ao paraíso. Nos perguntaram se o Brasil havia ganhado a Copa. Respondemos que sim e pedimos um copo d’água, pois nossos cantis haviam secado há tempos. Não nos negaram, todavia confessaram que para consegui-la tinham que caminhar seis quilômetros.
Mas o pior de tudo era que a tal água era tão amarelada que começamos a imaginar quais anomalias poderíamos desenvolver ao dividir aquele único copo de requeijão oferecido. Por fim agradecemos e retornamos acompanhados por um sublime pôr–do–sol.
Nos falaram que a água “potável” mais próxima dali ficava a três horas de caminhada. Mesmo assim, nos ofereceram um copo de água bastante amarelada. Toda a água consumida para tudo provém de poços que nem sempre estão posicionados da maneira mais correta, muitas vezes o banheiro, um pequeno cercado de madeira com um buraco no chão, fica próximo a esses poços.
Após nos satisfazermos com um copo de requeijão daquela água e imaginado os vermes se proliferando em nossas barrigas resolvamos voltar. O pôr-do-sol nos fez companhia ao longo da caminhada.
Autor: Fabian e Marina.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: Rio de Janeiro – RJ
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