Quem nunca sonhou em conhecer de perto uma Aurora Boreal? Este incomum fenômeno físico atrai diversos viajantes aos países próximos aos polos magnéticos da terra na expectativa de conhecer de perto um dos mais intrigantes espetáculos da natureza, mas diferentemente de uma atração física estável, como uma cachoeira, por exemplo, as luzes da aurora não possuem estabilidade e garantia de visibilidade. E como ela não tem hora, data e local marcado é comum ver pessoas voltarem contrariadas, melhor dizendo frustradas, por não terem visto as luzes do norte no Alasca, Noruega ou Islândia, por exemplo.
Infelizmente o grande vilão da realização deste sonho quase sempre esta associada à falta de informação, tanto dos viajantes, como também de grupos pouco preparados para alcançar a Aurora Boreal. Poucas pessoas sabem de fato o que é necessário para ver a Aurora, acreditando que basta viajar para um lugar próximo ao pólo norte e sentar na rua como quem aguarda uma sessão de cinema, mas na prática se você não tiver a sorte igual a do Frane Selak, não é bem assim que acontece.
Para ocorrer a Aurora Boreal, bem simplificadamente podemos dizer que é necessário que haja radiação solar atingindo a atmosfera terrestre. E isso ocorre porque as partículas solares desprendidas durante as ejeções de massa coronal não são totalmente desviadas pela magnetosfera terrestre, e através de um “movimento que rompe a cauda magnética” (Essa eu inventei agora), essas partículas são atraídas para nossos polos magnéticos, entrando em choque com os gases presentes em nossa atmosfera.
Simplificando essa aulinha fuleira de ciências. Isso ocorre a todo o momento…
O que irá então variar neste “constante” choque entre a radiação solar e nossa atmosfera é a INTENSIDADE, e para esta intensidade, alguém muito conhecedor das estrelas deu o nome de índice KP. Este índice KP é uma escala que varia de 1 à 9, se traduzindo, em termos de aurora, na intensidade das luzes que irão brilhar sobre nossas cabeças. Entretanto, entender este índice, o movimento solar e suas ejeções, e a matemática logarítmica por trás deste número cabalístico, são bons passos para antever ao espetáculo sentado no camarote congelado de algum lugar do pólo norte ou sul.
Ocorrer, não é ver!
Vou deixar o assunto longo e complexo da análise de dados magnéticos para qualquer workshop de astrofotografia, pois não vem ao caso explicar agora principalmente porque em termos práticos muitos sites e apps te dão com uma antecedência razoável a previsão de Aurora. Ainda que a maioria destas previsões seja feitas em uma escala de cores linear, posso afirmar que funcionam muito bem, e que qualquer índice a partir de KP 4, já significa que as chances de você ver uma Aurora dançando na sua cabeça é enorme, restando apenas o segundo passo: Saber onde ela será visível.
Teoricamente, com pouca luz, as Auroras podem ser vistas em qualquer parte do planeta, dependendo apenas da intensidade da radiação solar. Na prática, e para sorte das espécies terrestres, podemos dizer que isso é praticamente impossível de acontecer, e apesar de existirem ocorrências de Aurora em Havana e no norte da Itália, as chances de você ver uma Aurora abaixo dos 60 graus de latitude são extremamente remotas. Coloque extremamente nisso… Então, se você já tem seu número KP da sorte pelo menos entre 3 e 9, seria fácil pensar que bastaria buscar um lugar acima de 65 graus de latitude, suficientemente escuro e com céu aberto para ver sua Aurora.
Só que não. Tudo seria bem simples se dependêssemos apenas do astro rei para mandar uma energia aqui para baixo, entretanto ainda que o Sol faça sua parte, a meteorologia dos países próximos aos polos magnéticos é extremamente complexa (melhor dizer, agressiva) durante o inverno. Ventos fortes, nuvens pesadas em três camadas, nevascas, estradas congeladas e outros fatores climáticos são impeditivos naturais que fazem com que muitas pessoas não consigam alcançar a Aurora nos dias em que haja forte incidência solar. Portanto, o grande segredo é estar preparado para as oportunidades.
Para ver é melhor ir com uma boa equipe ou bem preparado.
Como não temos como minimamente controlar a radiação solar, temos que atuar nos obstáculos climáticos, e é quando entra em cena um bom planejamento ou uma boa expedição. Repito, pra diminuir seus riscos de voltar frustrado tenha sempre um BOM PLANEJAMENTO ou preferencialmente embarque em uma BOA EXPEDIÇÃO. Uma séria, e não em um pacote turístico disfarçado.
No primeiro caso, para quem vai para estes países por conta própria, além de estudar bastante a formação da Aurora, entenda que a diminuição de informações meteorológicas, naturais de quem vai sozinho, não pode de modo algum aumentar seus riscos. Qualquer carro quebrado em um lugar ermo congelado pode significar um risco de vida, e isso sem considerar que na Islândia e Noruega, por exemplo, existem muitos rios, gretas, e lagos congelados, e na ansiedade e expectativa podemos acabar indo em direção a outra luz que não é exatamente a da Aurora.
O segundo caso, para quem embarca em expedições, tenha em mente que expedições realmente focadas na caçada à Aurora Boreal são sempre equipadas com comunicação de segurança, recebem online as predições de radiação dos próximos minutos, acompanham online as condições da estrada, monitoram em tempo real da velocidade do vento, o posicionamento e predição das nuvens, além de conhecer a topografia e fazer o monitoramento instantâneo das condições de circulação dos caminhos e estradas. Isso garante segurança, e aumenta exponencialmente as chances diárias de encontrar a Aurora Boreal. Claro, sempre vamos depender da sorte, mas prefiro acreditar que sorte é estar preparado para aproveitar as oportunidades.
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