Através no MSN recebi a seguinte pergunta ? – “No dia 02 de Setembro vc vai estar aqui para ir para a Trilha da Laranja?” E a resposta foi única com duplo sentido: – “Eu vou”.
Para falar a verdade, me interessei mais pelas laranjas! Mas uma pedalada no meio dos laranjais não me faria mal, mesmo porque precisava desenferrujar e desopilar e quando me sinto estressada, só aventuras assim me equilibram.
A trilha foi em Ourém, no nordeste do Pará. É uma cidade pequena, com pouco mais de 15.000 habitantes que carrega dois títulos: o de “Pérola do (rio) Guamá” e o de “Paraíso dos Igarapés”. Foi fundada por Açorianos no século XVIII, possui belezas naturais ainda inexploradas, cercada de matas virgens, vários e belos igarapés de água cristalina e cachoeiras e acolhe, todo mês de Julho na Concha Acústica, o Festival de Canção Ouremense.
Ourém fica à 182Km de Belém. O grupo EART (Equipe de Aventuras Ratos de Trilhas) resolveu fazer essa trilha em duas etapas. Acordamos cedo e na rodoviária de Belém, ajeitamos nossas bikes no bagageiro do ônibus e seguimos para a cidade de Santa Maria/PA. No ônibus a empolgação era mútua entre os trilheiros e, desde minha vinda para o Norte, sinceramente já estava aguardando a chegada das piadinhas de “baiano” que sempre as escuto com muito bom humor, mas desta ainda estou rindo, né Serginho? Enquanto o sono da manhã me permitiu uma rápida cochilada, ele me perguntou se eu estava rezando o terço. Eu disse: – Terço? Não entendi. E ele perguntou se eu não sabia como baiano reza o terço. Eu disse que não e aí veio a explicação (piada): – Pega o 1ºmistério e reza: “Pai nosso que estais no céu ….”, 2º mistério: “bis”, 3º mistério: “bis, … “bis”, … “bis”, … “Bis”, … (rsrsrs).
Bom, “Éramos seis”, inicialmente para a primeira etapa, mas por um imprevisto e por força materna, uma das trilheiras, Ádila, teve que retornar, pois sua filha estava febril. Fizemos uma oração emocionados, tiramos a foto inicial e de lá seguimos pedalando até Ourém que, segundo dados calculados nos GPS’s dos trilheiros o trecho era, de aproximadamente, 70 km. Então iniciamos a pedalada como um “Quinteto Fantástico” às 9:25 hs (eu, Serginho, Fábio, Neto e Edson). As estradinhas eram lindas, sem movimento, sobe e desce, seixo/cascalho e trechos de areia quando meu câmbio começou a enroscar nos raios a cada mudança de marcha e foi aí que, quando paramos em Taciateua/PA para verificar o problema e desentortar o câmbio, aproveitamos para fazer um lanche (já eram 11 hs), sol já estava alto, prometendo “ilusões solares”, quando o Edson perguntou onde iríamos parar para almoçar. Serginho, naturalmente, lhe disse que almoçaríamos só quando chegássemos em Ourém.
Edson ficou pálido e a água na boca secou ! – Como ? Mas eu queria comer uma galinha à cabidela… E aí o papo rolou sobre pratos típicos da localidade mesmo sem a esperança do almoço desejado. Fizemos um lanche reforçado com tapioquinhas, refrigerantes, sanduíches e coalhada. Seguimos o caminho por estradas de terra entre fazendas. O sol castigada cada vez mais e cada parada, fosse para consertar uma corrente quebrada ou encher um pneu, tentávamos parar numa sombra que, por sinal, eram raras.
Meu câmbio piorou, as mudanças de marchas eram restritas e assim o esforço a cada pedalada foi maior. Após uns 40 km pedalados e com sombras e paradas cada vez mais escassas, eu perguntava ao Serginho: – “Cadê os igarapés ? Preciso de um banho para me restaurar ! E ele respondia: – Faltam 5 km. Tá logo ali com água fresca e peixinhos nadando ! E o Fábio: – Claro que eles estão nadando ! e não voando ! (rsrsrs) … E eu, além de me animar, acreditava. De repente, numa ladeira de seixo/cascalho, o Edson salta da bike, se curva, se joga no chão e grita: – Tô com câimbra ! Eu e o Fábio vínhamos atrás e paramos para ajudar, mas o cansaço falou mais alto e eu tirei a mochila de hidratação das costas e deitei nas pedras quentes para esticar a coluna e alongar, como se estivesse me deitando num colchão ortopédico king box. Enquanto o Edson massageava suas pernas, o Fábio comentou o seguinte: “Alguém tem medo de cobra ? Pois tem uma pequena logo ali”. Imediata e discretamente eu me levantei do chão, montei na bike e pedalei me aproximando do Serginho e Neto. … Morro de medo de cobras. Paramos para tirar umas fotos e seguimos até que, alguém viu um poço no fundo de uma casinha na estrada e pedimos à dona para nos deixar tomar um banho. Ela permitiu. Esse foi o banho mais gostoso que tomamos até então. Puxávamos a água com um balde do poço e despejávamos em nossa cabeça. Estava fresca e era potável.
Parecia um choque térmico em nosso corpo e nos deu uma “energizada” providencial para continuarmos. O semblante de fome do Edson era tão forte que, ao vermos um pato caminhando e rebolando em nossa direção, ao ver Edson ele se desviou rapidinho. A cena foi muito engraçada apesar de todos nós já estarmos fantasiando, a cada animal visto na estrada ou pastando, um espeto de picanha, leitão à pururuca com uma maçã na boca, galeto assado … noooossa ! … mesmo com o sol derretendo nosso cérebro, nossa imaginação continua fértil ! rsrs. Mas neste momento os tão esperados igarapés começaram a surgir e aí descobrimos que o que não falta no caminho são igarapés para banho de água filtrada pelas jazidas de seixo (cascalho) existentes naquela região.
Parávamos em cada um deles não somente para um banho refrescante, mas para fotos e apreciar suas águas relaxantes e límpidas além das crianças nativas da região que brincavam e banhavam-se nuas e soltas naquelas águas puras que a natureza lhes proporciona.
Entre as comparações de percurso de ciclo-computadores e GPS’s iniciou-se as divergências de kilômetros restantes até a chegada à Ourém. Num faltava 7 km, noutro 10, noutro 17 km, mas mesmo contando as margens de erro para mais ou para menos, a kilometragem restante era em linha reta… sendo que a estrada era totalmente sinuosa (ai ai… seja o que Deus quiser … rsrs) … Já eram 16 horas e o sol e o cansaço não amenizavam nossa trajetória. Os incentivos e motivações eram constantes e até trocamos de bikes.
Neste momento, passa por nós um ônibus da Prefeitura de Ourém e então pedimos uma carona. O motorista topou na hora. Coloquei a minha bike dentro do ônibus e segui. Além de alguns passageiros que me olhavam curiosos e perguntavam de onde o grupo estava vindo, tinha um cantor que tocava sua viola para animar a viagem.
Após 1 km o motorista parou num boteco, deixou os passageiros no ônibus e desceu para tomar “uma dose”. Em seguida, o grupo, que continuou pedalando, avistou o ônibus e pararam para saber o ocorrido. Neste momento o motorista veio me trazer uma garrafa de refrigerante bem gelada e eu aceitei na hora. Desci do ônibus e fomos conversar com os outros ciclistas. Foi aí que percebemos que ele estava bêbado. Fábio conversou com ele numa boa sobre segurança no trânsito e me perguntou se eu queria continuar. O motorista disse que faltavam 5 km para chegar em Ourém. Edson ia entrar no ônibus para me acompanhar por medida de segurança, mas com a proximidade decidiu concretizar a pedalada e eu segui de ônibus, com o motorista que, mesmo bêbado e falando ao celular, dirigia bem devagar e me dizendo que para homem ele não dá carona ( ! ). E ainda fez um city-tour na cidade para que eu a conhecesse além de me deixar, gentilmente, na porta da pousada onde o grupo passaria a noite. O cansaço era evidente, mas a fome gritou. Nós cinco ainda saímos pela cidade caminhando à procura de um restaurante aberto para comermos qualquer coisa, mas não encontramos. Então pedimos 2 pizzas grandes que foram entregues no hotel e as devoramos em pouco tempo seguida de uma barra de chocolate como sobremesa. Outros ciclistas já estavam chegando ao hotel para se prepararem para a segunda etapa da trilha no dia seguinte. Depois de um banho e um bom bate-papo alguns foram para cama dormir cedo e outros foram papear e comer um peixe na beira do Rio Guamá.
No dia seguinte, durante o café da manhã o encontro foi maior, o câmbio da minha bike foi trocado para que prosseguisse na etapa do domingo e seguimos para uma fazenda que foi o ponto de encontro e de saída da Trilha da Laranja à aproximadamente 1 km do hotel, que além de um lugar muito legal, tem até criação de avestruz.
A concentração estava animada com os garotos da região ansiosos para receberem seus presentes, que foram doados pelo grupo para incentivá-los na prática do Mountain Bike, com segurança. Vários capacetes e luvas foram distribuídos entre eles que iriam nos acompanhar por cerca de 55 km. Suas bikes não eram apropriadas para o Mountain Bike. Eram pequenas, sem marchas e até sem freios, mas a alegria deles era tão grande que esses “detalhes” não fizeram a menor diferença para eles. Nós, o grupo, sim, para eles, parecíamos uns ET’s …. rsrsrs.
Após a oração, orientações, contagem geral (58 ciclistas) e agradecimentos, seguimos juntos passando inicialmente pelo centro de Ourém e pela igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, construída em 1939 no estilo gótico, que é palco de duas grandes festividades anuais: a festa da padroeira e a de São Benedito.
O Círio de Nossa Senhora da Conceição acontece sempre no terceiro domingo de agosto. Após esse cartão postal, atravessamos a ponte e iniciamos a trilha. Os garotos correram na frente para nos aguardar na primeira poça de lama para “batizar” seus convidados com lama.
Alguns torceram o nariz para a brincadeira animada da garotada, porém outros levaram na esportiva como um tratamento de pele … rsrs. O sol já começava a castigar e os trechos de seixo/cascalho e areia se intercalavam entre um sobe e desce incessante recheado com uma ladeira interminável.
O que compensava eram os laranjais onde parávamos para chupar laranjas no pé fresquinhas e água de côco que a garotada arrancava dos coqueirinhos, quebravam-os nos eixos das rodas de suas bikes e os dividiam conosco para matar a sede.
Alguns pneus furados e quedas aconteceram, mas nada grave. Até uma vaca parindo no meio do laranjal foi fotografada e filmada. Nessa trilha tivemos parada até para um chopp estupidamente gelado (! ? !) (chopp no Norte é sinônimo de geladinho ou chup-chup … rsrs).
Alguns igarapés no caminho, irresistíveis para uma refrescada, até chegarmos a um hotel balneário com piscina natural, cachoeira e toboáguas. Lá nos “soltamos” para um banho relaxante, fotos e para almoçar.
Depois dessa pausa, restavam ainda uns 17 km até o ponto de partida em Ourém e retornamos vitaminados. Foi, logo na saída do balneário, que Carol e André, cairam numa ladeira de alto grau técnico. Ela ferindo o queixo e ele arranhando o braço, a perna e quebrando o capacete. São nessas horas que percebemos a importância dos acessórios de segurança, principalmente o capacete ! Mas após os primeiros socorros, voltamos todos pedalando e finalizando o domingo com uma trilha “naturalmente exuberante” num percurso de 55 km !
Ourém tem sua economia baseada na exploração de seixo/cascalho e é a maior produção do Estado do Pará. A origem do nome Ourém tem duas versões: a primeira e oficial, diz que seu fundador, Luis de Moura, para demonstrar o poder de sua conquista à Europa, batizou a cidade com o mesmo nome de sua cidade natal em Portugal e, a segunda versão é a de que os desbravadores achavam que lá havia muito ouro e outras pedras preciosas, mas, ao constatarem que, além de não ter ouro, além de seixo/cascalho, diziam: “Ouro, hein ?”
Vejam o vídeo abaixo com muuuuuuito mais fotos:
Agradeço especialmente à família EART (Equipe de Aventura Ratos de Trilha – PA), aos coordenadores Serginho e Fábio pelo incentivo e paciência em trechos de sol à pino (mesmo porque também faço parte do Grupo Jabutis Vagarosos – BA) e ao “Dengue” pela gentileza em trocar meu câmbio por um câmbio extra do Serginho.
Texto e fotos: Itana Mangieri
Pesquisa cultural: Wikipédia
Autor: Itana Mangieri
E-mail: itanamangieri@gmail.com
Site: http://mundodabike.blog.terra.com.br
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