Estou acostumada a viajar com meus pais e já conhecia muitos lugares legais dentro do Brasil. Quando programei essa viagem, a primeira com meus amigos, achei que a Bahia estaria do jeito que sempre esteve. Conhecia Porto Seguro e Arraial D´Ajuda mas eu queria visitar um lugar na Bahia como Dunas de Itaúnas, no ES, que tem o chão de areia, pouca iluminação pública e um astral muito bom.
Saí de Belo Horizonte, onde moro, no dia 28 de Dezembro de 2001 e peguei um ônibus com destino a Camamu, na península de Maraú-BA, para de lá pegar um barquinho (1h20 de viagem) que me deixou na vila de Barra Grande. Para quem nunca ouviu falar, vale a pena conhecer. Barra Grande é o paraíso ainda não descoberto. Tá certo que não é tão deserto e que tinha gente cortando a onda da moçada, andando de moto na praia numa velocidade alta demais, jogando lixo na areia, etc. Mas Barra Grande comparada a qualquer lugar da Bahia ainda é desconhecida.. A mais ou menos dois anos atrás foi construído um cais de porto, cheio de luzes, que não deixa mais ninguém ver as estrelas a noite (dá vontade de quebrar as luzes, mas ninguém faz nada em respeito aos habitantes locais, que construíram tudo com o trabalho duro deles..)
Em Barra o mar é bem calmo e quase sem ondas. Uma coisa interessante para se ver nas praias centrais são as gamboas. As gamboas são armadilhas de pesca feitas de bambu, onde o peixe entra em um labirinto e acaba sem saída. São técnicas seculares… Da época do descobrimento, quando a região era usada para plantar dendê e coco. De Barra Grande se conhece a cachoeira do Tremembé (negocie com qualquer pescador o frete de um barco), que é maravilhosa. A Ponta do Mutá também é deslumbrante e de lá pode-se chegar à Três Coqueiros, esta rodeada por recifes.
Quem for atleta e tiver disposição de continuar andando 1h30min pela praia, pode conhecer a famosa Taipus de Fora (mas se você não tiver disposição, pode pegar uma marinete que te leva em 20 min). Taipus é o paraíso na terra. A praia é cheia de coqueiros e a areia é fina e clara. Há recifes, onde na maré baixa se pode mergulhar e ver muita coisa. São paredões de mais ou menos 6 m de altura, que formam piscinas naturais de água cristalina, azul turquesa. Em um dia de sol é possível ver a própria sombra na areia, de dentro dágua. A última dica é o Bar do Alemão, que é do outro lado do rio. Quando a maré está baixa dá para atravessar o rio a pé mesmo, sem molhar nada, mas depois que a maré enche a travessia é feita a nado ou de canoa. O último aviso sobre Barra Grande: se você procura algum agito a noite, desista. A cidade praticamente morre à noite.
No dia 4 de Janeiro cheguei em Itacaré. Tive que sair as 6hrs da manhã de Barra, pegar o barco até Camamu, de Camamu um ônibus para Ubaitaba e de Ubaitaba mais um ônibus para Itacaré, numa estrada de terra linda, bem arborizada, cheia de borboletinhas. Chegando em Itacaré, pus a minha mochila nas costas e fui procurar a pousada onde os meus amigos estava. Me acomodei e fomos conhecer as praias de dentro da cidade: Resende,m Tiririca, praia da Costa e Ribeira. As praias são maravilhosas mas as praias mais afastadas são muito mais bonitas, além de serem menos cheias.
A prainha é a primeira opção para aqueles que chegarem em Itacaré sem carro (se você tiver um carro, leve ele pra Itacaré.. Deixei de conhecer muita coisa por que sou menor e ainda não posso dirigir). Para chegar na prainha são mais ou menos 40 minutos numa trilha bem tranquila, com muita mata atlântica. No meio do caminho tem uma cachoeirinha bem gostosa pra espantar o calor da caminhada. E a praia é maravilhosa, mas não tem infra-estrutura nenhuma. Não tem barraquinha nenhum, só carrinhos vendendo água, cerveja, refri e coco. Se você quiser passar o dia na praia leve alguma coisa pra comer… Depois da prainha, encontramos a praia de São José… A praia de São José está dentro do Itacaré Eco Resort, então não a conheci (mas não sei se o acesso é permitido). Jeribucaçu foi uma das praias mais bonitas que já vi.
Depois de 10 min de asfalto (caminho para Ilhéus), paramos na beirada da estrada e seguimos andando para a praia numa estradinha de terra (a maioria das praias afastadas são propriedades particulares, onde eles liberam a entrada). Jeribucaçu é cortada por um rio muito bonito de águas claras. A minha infelicidade é que no dia que vistamos Jeribucaçu choveu e ventou como nunca e agente se escondeu debaixo de uma casinha de madeira por mais ou menos 2hrs. E fomos embora na chuva. Visitei ainda Hawaizinho e Engenhoca, que são duas praias maravilhosas, também afastadas da cidade. Itacarezinho é outro lugar maravilhoso, que vale a pena conhecer. Esta é perto do Txai Resort. Em Itacaré tem muita coisa pra fazer e quem é adepto aos esportes radicais tem opções de trekking, bike, surfe, entre muitos outros.
Convenci meus amigos a irem para Barra Grande, descrevi o cenário e acabei levando eles para lá. No caminho da rodoviária, o Bruno, um amigo, começou a mascar o dono de uma Land Rover que passava pra dar uma carona pra galera até a rodoviária, por que o sol estava quente demais e as coisas muito pesadas. Subimos na Land Rover e a acabou que ela nos levou até Barra Grande pela estrada de dentro, pela estrada de terra. Se você observar em um mapa a península de Maraú, vai poder ver que Itacaré está um pouco abaixo de Barra Grande, mas o caminho de dentro quase não é usado. De Itacaré, normalmente, pega-se um ônibus ou um carro para Ubaitaba e de lá para Camamu (para de lá pegar o ônibus para Barra Grande).
A estrada era um lamaçal sem fim e se agente estivesse com uma câmera filmadora, a chevrolet ia ter uma nova propaganda…Ficamos de boca aberta da S10 4×4 que acompanhava a nossa Land Rover, subindo e descendo no meio daquele trilha. Era realmente inacreditável. Um carro sem tração não consegue passar por aquele caminho de jeito nenhum. No meio do caminho, tivemos uma parada para subir o “Morro do Celular” e ver a Lagoa de Cassanges de cima do morro. A visão é maravilhosa e o barzinho tem um astral super gostoso, cheio de mesinhas de madeira, bem rústica, e redes jogadas por todos os lados. Cassanges foi o lugar mais bonito que já conheci.
Depois de mais 5 dias em Barra Grande, o grupo se desmembrou. Duas pessoas tinham ficado em Itacaré, outras duas estavam voltando para BH e as 5 que sobraram estavam indo para Caraíva. Pegamos o barco para Camamu e lá encontrei umas meninas que tinha conhecido indo pela Barra Grande pela primeira vez. Duas delas acabaram descendo para Caraíva comigo e mais um amigo. As outras três pessoas que estavam com agente, que também iam para Caraíva tiveram que passar por Itabuna antes, para pegar dinheiro.
Chegando na rodoviária de Itabela depois de quase 12 horas dentro de um ônibus que só faltava ter galinha dentro, descobrimos que no dia não estava saindo ônibus nenhum para Caraíva por que andava chovendo e a estrada estava muito ruim. A opção era passar uma noite em Itabela ou pegar um táxi até Caraíva por R$20,00 por pessoa. Fazer o que, né? Pegamos o táxi e chegamos em Caraíva já a noite. Estava chovendo e ninguém conseguia enxergar nada na frente (pra quem não sabe, Caraíva não tem luz elétrica.. Alguns lugares possuem gerador, mas nada que ilumine a cidade.) Conseguimos uma pousada para passar a noite e no dia seguinte mudamos de lugar. Caraíva é mais um paraíso na terra e me arrependi por não ter ficado mais tempo (meu dinheiro estava acabando, então fiquei só 4 dias na cidade). Todas as praias são alcançadas a pé, a cavalo ou de barco. Não conheci nada lá, fora a Barra, por que nem deu tempo, mas o pessoal visitou a praia do Espelho, Curuípe e a Barra Velha, onde há uma aldeia de índios pataxós, que trocam leçóis, blusas e bermudas por colares e pulseiras. Pra quem gosta de mergulho, ouvi falar muito bem de Corumbau. Me falaram que lá é quase Abrolhos.
Como estreante, marinheira de primeira viagem, acredito que fui muito privilegiada. Logo no meu batizado conheci lugares que não esperava que fossem tão bonitos e tive o primeiro sabor do que é a vida realmente.
Não vejo a hora de sair debaixo da asa da mamãe e rodar o mundo todo atrás de lugares paradisíacos. Admiro muito aqueles que tiveram coragem de largar a vida “normal” que levavam para sentir a liberdade, a vida mesmo, correndo nas veias. Espero que no tempo que ainda tenho antes de assumir o controle da minha felicidade, eu seja capaz de desenvolver a coragem para poder pular de cabeça na vida quando as minhas escolhas estiverem na minha frente.
Agora que eu descobri o que é viajar, pretendo descobrir Minas. Já conheço muita coisa, mas pretendo viajar com meus amigos pra todos esses lugaras: Serra da Canastra, Serra do Cipó, Tabuleiro, Ouro Preto, Lavras Novas, São Tomé, entre muitos outros.
Desejo pra todo mundo um 2002 cheio de vibrações positivas, de viagens, de descobertas, de natureza, de consciência e de paz.
É isso aí.
Muita paz.
Autor: Luísa Girardi.
E-mail: luisagirardi@yahoo.com
Cidade/UF: Itacaré, Barra Grande e Caraíva – BA
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