Muitos se perguntam como uma civilização com tamanho grau de desenvolvimento tecnológico, pôde praticamente desaparecer após quase 500 anos da conquista espanhola.
O “praticamente” cabe aqui visto que, a despeito de todo o processo decorrente da colonização e aculturação, seu legado sobrevive em maravilhas como a Ilha do Sol, a Fortaleza de Ollatayambo no Vale Sagrado, a cidade de Cusco (ou o que sobrou dela), o Templo do Sol e, claro, Machu Picchu. Essa, a única dessas maravilhas que, graças à atitude desesperada da resistência inca aos espanhóis de atear fogo às pontes que lhe davam acesso, nunca foi encontrada pelos conquistadores, permanecendo assim praticamente intocada por quatro séculos.
Pois essas maravilhas resistem até hoje à ação do tempo e do Homem e podem ser vistas por qualquer amante da História, da Natureza, da espiritualidade ou simplesmente de uma boa aventura. E melhor: a um preço relativamente acessível, ao menos quando comparado com os “points” mais famosos do Brasil e do Exterior.
Para quem sai do Centro-Sul do país, o melhor ponto de partida é Corumbá (MS). A partir dali, alguns ônibus não só levam os passageiros à rodoviária da cidade como, gratuitamente, levam os passageiros até Puerto Quijaro, já no lado boliviano, se assim o quiserem. Caso contrário, há que se pegar um táxi que não deverá sair por menos de R$ 35 ou R$ 40.
Vale alertar que há o posto de fronteira no meio do caminho. Lá se recebe um papelzinho amarelo que, se for perdido, lhe custará pelo menos 20 bolivianos (uns R$ 6) na saída. A propósito, se não perdê-lo também encontrarão uma forma de te cobrar algo, mas será menos.
O Trem da Morte
Passada a fronteira, poucos metros adiante se encontra a estação ferroviária do “Tren del Oriente”. Esse trem também tem o anedótico nome de “Trem da Morte”, mas não é para se assustar, esse nome foi dado porque o primeiro “carregamento” feito foi de cadáveres humanos! Há três opções, nenhuma de muito luxo. Existe o trem de US$ 7, de US$ 15 e de US$ 35, obviamente, não é preciso se dizer que qualidade, preço e tempo de viagem são diretamente proporcionais ao preço.
Em tempo: quem prefira dispensar a aventura ferroviária, pode optar por tomar um vôo diretamente à Santa Cruz, saindo de São Paulo, mas não vai ter a menor graça…
Santa Cruz
Na outra ponta do intrépido trem, está a cidade de Santa Cruz de la Sierra. Em geral, o Trem da Morte chega à Santa Cruz, enquanto que os ônibus partindo para Cochabamba, La Paz e Sucre saem por volta das 18:00 h. Assim, é possível se sair para conhecer a cidade.
Lá não se vê nada da cultura inca, o que pode fazer com que um viajante mais radical não se interesse por conhecer essa que é a cidade mais desenvolvida da Bolívia. Destino de muitos imigrantes alemães no passado, Santa Cruz dispõe de um plano urbanístico muito interessante: o sistema viário da cidade é composto por cirfunferências concêntricas (várias circunferências de tamanhos crescentes “dentro uma das outras”) cortadas por avenidas radiais. Por outro lado, não existe sistema de microdrenagem pluvial (bocas-de-lobo e bueiros), fora ser uma cidade de forte tensão política em que prospera a ideologia separatista.
Cabe ao viajante escolher o melhor percurso, mas como sugestão tomar um ônibus direto à La Paz (cerca de US$ 20 e 22 horas!) parece ser o mais interessante. Cochabamba, a meio caminho das duas cidades, também é uma boa opção, especialmente se o tempo não for problema. Também há quem saia para conhecer Sucre e, a partir dali, sair para Potosí e Uyuni, ambas no sul da Bolívia. Dali, se pode partir para La Paz ou optar por seguir via San Pedro de Atacama.
Se a opção for La Paz ou mesmo Cochabamba, é recomendável passar em uma farmácia e comprar uma pílula para o “soroche”, o mal dos Andes.
Devido à altitude, muitas pessoas sofrem com intensa dor de cabeça. A pílula é barata e funciona.
La Paz
Chegando em La Paz, se começa a sentir a atmosfera andina. Não só pela etnia da população – com traços fortemente indígenas – como pela alimentação, vestimentas, museus, geografia etc.
É recomendável passar pelo menos dois dias e meio em La Paz. Normalmente o ônibus vindo de Santa Cruz chega por volta das 12:00h, se não estiver estafado da viagem, se pode sair para conhecer o centro da cidade, museus e até o Estádio Nacional. No segundo dia, se pode ir a um vulcão inativo nos arredores da cidade, uma experiência única para brasileiros. O preço gira em torno de US$ 8 a US$ 10.
Mas o grande destino na Bolívia é mesmo o Parque Arqueológico dos Tiwahuanaco. Ali se dará o primeiro contato com a cultura pré-colombiana. Trata-se de uma civilização pré-incaica que, assim como seus descendentes mais famosos, tinham grandes conhecimentos de arquitetura, engenharia, matemática, agricultura e astronomia. O passeio feito por agência de turismo sai também por cerca de US$ 10.
A propósito, também é possível chegar a La Paz por via aérea.
Copacabana/Ilha do Sol
Saindo de Tiwahuanaco, a sugestão é ir para Copacabana. Essa cidadezinha, à beira do Lago Titicaca (para quem não sabe, o “mais alto” lago navegável do mundo). Lá pouco sobrou da cultura inca propriamente dita, as construções foram demolidas para se construírem igrejas católicas. Mas se pode deliciar com a arquitetura colonial e com uma boa truta assada. Sem contar os incontáveis barzinhos com gente de todo o mundo que dão um ar cosmopolita à cidade. Também se pode conhecer a “Horca del Inca” (“A forca do Inca”), antigo observatório astronômico que acabou por ter o destino que se denota do nome.
Não obstante aos grandes atrativos da Copacabana continental, o grande atrativo do local é conhecer a Ilha do Sol, à uma hora e meia de barco do continente.
Há dois passeios: um de meio-dia, saindo às 08:30h e voltando às 12:00h (que não vale a pena porque se passa menos de uma hora na ilha, o restante do tempo é gasto no trajeto) e o passeio de um dia inteiro, voltando às 17:30h. Porém, é simplesmente imperdoável não se passar ao menos uma noite na ilha.
As pousadas são extremamente simples e de pouquíssima infra-estrutura, não há bares, ou bons restaurantes, apenas alguns estabelecimentos concentrados próximo ao cais que não são tampouco de grande qualidade. Porém, a paisagem da ilha, especialmente após as 10:00h quando baixa a névoa, é algo de tirar o fôlego e que faz valer o sacrifício.
Pode-se presenciar a aquarela de cores resultado do encontro de um azul celestial límpido com as águas igualmente inebriantes do Titicaca, interposta à brancura das nuvens e, àqueles com mais sorte, a vermelhidão do alvorecer.
Ah, claro, na ilha encontra-se o Templo do Sol, outra jóia da cultura inca.
Puno/Cusco
A cidade de Puno fica na fronteira entre Bolívia e Peru, estando, portanto, no trajeto entre Copacabana e Cusco. O interessante é que o ônibus que sai da cidade boliviana, pára por cerca de quatro horas em Puno. Há os que usam esse tempo para se hospedar em algum hotel e descansar das horas de viagem; porém, a grande maioria paga 15 “soles” para ir conhecer “Las Ilas Flotantes”. Antigamente, muitos índios viviam isolados no Titicaca em ilhas artificiais feitas por eles próprios com uma fibra chamada “Totora”, que bóia na água.
Àqueles interessados na cultura inca, Cusco sem dúvida é o grande destino. Antiga capital do Império Inca, a cidade teve muitas de suas características originais modificadas. Mapas antigos mostram que ela tinha o formato de um puma (pantera), um dos animais sagrados dos incas. Infelizmente isso não ocorre mais. Também muitos dos templos incas foram demolidos para se transformar em igrejas ou simplesmente para se combater o paganismo. Porém, restam muitas ruínas permanecem em pé e podem ser vistas pelos turistas. Há diversas agências de turismo na cidade e todas oferecem um “city tour” que, além das ruínas, dá direito a conhecer os museus. Também é possível admirar a arquitetura colonial da cidade, especialmente próximo à Praça de Armas, na área central.
A noite em Cusco também é famosa. Nos arredores da Praça de Armas estão as principais casas noturnas, onde é possível encontrar gente do mundo inteiro, mas atenção rapazes: cuidado com as “chicas” que trabalham dos estabelecimentos, casos de “boa noite Cinderela” são comuns.
Nas proximidades de Cusco, encontra-se o Vale Sagrado dos Incas, cortado pelo Rio Urubamba, o rio Sagrado. É imperativo ao viajante conhecer esse lugar!
O passeio é meio caro (US$ 15) e bem “mercantilista”, é comum os passeios pararem para almoço em um restaurante “típico”, servido comida “típica” pelo preço “típico”de US$ 10! Fora isso, conhecer o Vale, as “Terrazzas” e Fortaleza de Ollataytambo vale a pena. Uma boa opção é dormir uma noite na vila para conhecer melhor a fortaleza.
Após conhecer isso tudo, já chega a hora de partir para o grande momento da viagem: A Trilha Inca!
Trilha Inca
Para quem não sabe, essa trilha era o caminho que os incas utilizavam entre o Vale Sagrado e Machu Picchu. Consiste em um trajeto de 04 dias andando, dormindo em cabanas e comendo comidas típicas de verdade. Além de muito chá de coca para a altitude.
São cerca de 40 km partindo de uma altitude de pouco mais de 2.000 m no primeiro dia, passando para mais de 4.000m no segundo e terminando na casa de 3.200m a 3.300m. Isso tudo levando a própria mochila, enquanto os carregadores pagos pela agência levam as barracas.
Sem a menor sombra de dúvidas, o dia mais difícil é o segundo. São quase 2.000 metros de subida entremeados com algumas descidas ambas extremamente íngremes. O frio e a chuva e até a fome ajudam a dar dramaticidade ao esforço. Muitos são os que desistem ou pedem auxílio. A maioria, entretanto, levando pouca bagagem e respeitando os próprios limites, consegue chegar sem maiores problemas.
De tão complicado, no segundo dia só se caminha até a hora do almoço (que, dependendo da velocidade do turista, pode ser depois das 15:30h), o restante do dia é destinado ao descanso.
A paisagem é diversa e apaixonante. Rios, cachoeiras, vales nevados… O clima também. Enquanto no primeiro dia se passa intenso calor, no segundo, a mais de 4.000 metros, faz frio, chove e venta, e muito. Quem tem sorte pode se deparar com a fauna local como condores, veados e até ursos de pequeno porte.
Entre as ruínas, destaque para Pisaq e o Templo do Sol (já quase em Machu Picchu). Outra coisa que chama a atenção é a flora local, como cactos que só crescem na região que tiveram grande importância para o desenvolvimento da arquitetura inca: o perfeito arranjo entre os blocos de pedra das enormes construções incaicas se deveu em grande parte à utilização desses cactos como lixas para regularização dos mesmos.
O dia mais esperado é, sem dúvida, o último, por motivos óbvios. Após grande esforço, chega a hora de se deparar com a paisagem tão esperada: Machu Picchu. A primeira vez em que pode se avistada é através do Templo do Sol, isso se a neblina não estragar tudo (entre Novembro e Janeiro não é uma boa época para se fazer a trilha devido à incidência grande de chuvas e neblinas). Do Templo do Sol até Machu Picchu, o trajeto é inteiramente em descida, dando alívio aos já estafados pés dos turistas.
A grande vantagem de chegar em Machu Picchu andando, além da trilha em si, é claro, é que se chega muito cedo, antes das 08:00h, enquanto que quem vem de trem só pode entrar depois das 10:00h. Assim, quem fez a trilha tem duas horas sem cabeças à sua frente na hora das fotos e sem esbarrar em muita gente.
Machu Picchu é um deleite mesmo para quem não entende muito de História pré-colombiana ou arqueologia, mas ter um bom guia ajuda muito, o problema é que eles são caros e, principalmente, raros. Para quem não tem dinheiro para contratar um bom guia, vale outra dica, essa politicamente incorreta: muitos europeus e asiáticos formam grandes grupos de turistas, com pacotes caros e bons guias, é muito fácil se fazer de desavisado enquanto eles fazem seu trabalho e ouvir, a custo zero, informações valiosas como por exemplo, como os incas quebravam as rochas usando água gelada.
Um ponto a se conhecer, para quem ainda tiver pernas após os 04 dias de caminhada, é o topo de Wayna Picchu, a montanha menor.
O lado ruim de Machu Picchu é o preço das coisas, uma garrafa de 500 ml de água mineral pode custar mais de 2 dólares, mas se fosse perfeito…
Águas Calientes
Machu Picchu só tem um hotel e é caríssimo. Os mortais ficam em um vilarejo chamado Águas Calientes. A maioria dos pacotes da Trilha Inca inclui hospedagem nesse local. Como o próprio nome sugere, Águas Calientes tem várias termas naturais. As piscinas são lotadas e a higiene duvidosa, mas vale a pena arriscar, especialmente para relaxar os músculos.
A volta de Águas Calientes para Cusco se dá de trem _ o mesmo que muitos usam para ir para Machu Picchu.
Nasca, Chile, Uyuni, Potosí e outros
Feita a primeira parte da viagem, agora resta a volta. Dependendo do tempo de cada um, se pode passar uns dias mais em Cusco, e depois subir para Nasca e ver as linhas milenares gravadas no deserto ninguém sabe muito bem o por quê. Após isso, se pode continuar subindo até Lima ou fazer o caminho de volta:
Essa volta pode ser pelo mesmo caminho original, desfrutando novamente do cenário original ou, sendo um pouco mais ousado, voltar pelo Chile, indo até San Pedro do Atacama, encravada no meio do deserto mais seco do mundo, onde chove apenas de 04 em 04 anos em média. Dizem que, quando isso ocorre, o deserto floresce! Vale a pena conferir a previsão do tempo!!
De San Pedro, se pode descer até Santiago e a partir dali cortar a Argentina e voltar para o Brasil. Outra opção, mais recomendável, é conhecer Uyuni, Potosí e Sucre, essa última a capital administrativa da Bolívia (verdade, não é La Paz como crê a maioria).
Uyuni possui um deserto de Sal inacreditavelmente lindo, Potosí, a cidade “mais alta” do mundo (mais de 4.800 m), outrora a cidade mais rica do império espanhol pelas suas minas de prata, hoje convalesce em meio à miséria, mas mantém ainda sua beleza colonial e os atrativos de visitas às minas desativadas de prata e carvão. Já Sucre é uma cidade de arquitetura muito apreciada.
Galeria de Fotos
O caminho…
Para quem for fazer o trajeto inteiro de ônibus, é preciso pelo menos 20 dias. Se possível um mês (entre Março e Outubro) completo. Só assim é possível desfrutar de um pouco da riqueza da História, muitas vezes esquecida, da América Latina.
O caminho a Machu Picchu e à cultura inca é muito mais que a trilha, embora essa sem dúvida seja o grande atrativo. Na verdade ele começa no trajeto pelas estradas e ferrovias que cortam esses países andinos, a visita aos sítios históricos, museus, a degustação da comida andina. Ou mesmo antes: para quem sai de São Paulo, análogo ao Terminal Barra Funda, encontra-se o Memorial da América Latina, um aperitivo encantador.
Enfim, a aproximação maior com esse povo, outrora nobre e poderoso, que hoje tem em seus descendentes certa expressão de tristeza e melancolia. Quem já teve a oportunidade de conversar com um habitante dos Andes, notará que, em geral, eles não olham nos olhos do interlocutor, herança do processo civilizatório que lhes foi imposto.
Entretanto, dentro de si ainda algo de inca permanece. Seja nas flautas andinas, no poncho de lã de lhama ou no Pisco. Vivenciar uma viagem ao coração da América Latina é algo único.
Autor: Marcelo Klafke
E-mail: marceloklafke05@gmail.com
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