Algumas coisas andaram acontecendo nos últimos tempos. Entre elas o fato de eu ter ficado “preso” em Sampa devido ao trampo. Com isso deixei de fazer minha manjada visita a São Tomé das Letras. E por falar nisso, nem o Marcelo, nem o Petillo deram também a tradicional passada na cidade das pedras. Daí a saudade bateu na solidão dos meus dias (o lôco), comecei a me lembrar dos nossos porres de vinho Marcon, da paz, da natureza, do rock’n’roll e das pessoas que não ficam buzinando a todo momento por nada como aqui em Sampa.
Enfim… a saudade bateu, a distância de lá agora é maior, em todos os sentidos, por isso resolvi rever uma matéria que eu havia escrito na época em que eu editava o site Antenet, lá em Taubaté.
Espero que vocês curtam o texto e São Tomé.
São Tomé das Letras: misticismo e natureza na cidade das pedras
Escrever ou falar de São Tomé das Letras/MG é como beber um copo d’água no momento de sede extrema. Visitar São Tomé das Letras é como andar nas nuvens, é poder recarregar as baterias para encarar o mundo lá fora. Sim, mundo lá fora. Pois São Tomé é uma cidade única, longe de tudo que encaramos para sobreviver nos dias de hoje.
A pequena e acolhedora cidade mineira sempre foi o habitat dos alternativos. Daquela tribo desligada dos valores materiais que cultua a paz e o amor, sempre com um violão na roda, um incenso queimando e aquele tradicional amor pela natureza. Hoje, muitos turistas visitam o município, mas quem conhece São Tomé sabe que esses turistas não são aqueles comuns que encontramos no litoral ou em qualquer outra cidade brasileira. Apesar das coisas terem mudadas um pouco com relação aos anos 80 e 90.
Para quem não conhece ou gostaria muito de passar uns dias por lá vamos começar a localizá-la e a descrevê-la: a cidade se encontra na serra que leva o mesmo nome, encravada no alto de uma montanha, a 1300 m, entre as cidades de Baependi e Três Corações. De Baependi a São Tomé são 43 km de estrada de chão, em que o visual da serra, as cachoeiras e a paz do local valem muito a pena, ao invés de encarar a estrada de Três Corações, que se encontra já asfaltada. A distância é praticamente a mesma. Se o asfalto ofusca a natureza e diminui a aventura, a visão de quem opta por esta estrada é agraciada com a montanha branca, onde funcionam as pedreiras que retiram rochas de quartzito ou itacolomi, a famosa pedra São Tomé das piscinas.
Arquitetura a base de quartzito
É um susto para quem chega pela primeira vez em São Tomé. Ao mesmo tempo é um encanto poder ver construções de quebrar a cabeça de qualquer arquiteto. No decorrer dos 368 km quadrados do município podemos nos deslumbrar com construções erguidas apenas com pedras, apoiadas uma a uma. Segundo informações, essas edificações foram realizadas há mais de 200 anos. São casas, algumas transformadas em restaurantes ou lojas e uma igreja, a Igreja de Pedras, construída no século XVIII pelos escravos. A Igreja de Pedras é um dos mais belos cartões postais da cidade.
Além das edificações encontramos, ainda, ruas de pedras. Asfalto ou até mesmo o velho paralelepípedo nunca foram usados por lá. São apenas enormes pedras por toda a cidade.
A Igreja Matriz também é uma bela construção. Não é de pedra, é verdade, mas tem seu charme, principalmente na decoração interior típicas das igrejas mineiras.
Onde ficar e como encontrar
Chegando a São Tomé, os turistas encontram garotos e garotas oferecendo casas para alugar. São casas simples como tudo na cidade. E o preço é acessível.
Mas se você quer algo mais sofisticado o máximo que encontrará é uma pensão. Nada de frescuras. É por isso que o povo que visita a cidade é considerado da paz. O importante para todos é a aventura. O abrigo mais utilizado é a barraca. Existem alguns campings bem localizados. Um deles é no início da cidade, ao lado do estádio municipal. Fica a frente de uma pedreira. Além dos campings já existentes, a galera procura também locais alternativos para armar a barraca, como os picos próximos a cachoeiras. Encontrar pessoas dormindo na rua é comum. Mais comum ainda é dormir no caminho que nos leva à Pirâmide e ao Cruzeiro, picos que veremos mais adiante.
Por que das Letras?
É uma pergunta comum a todos que visitam o local. Assim como a lenda e o misticismo fazem parte da cultura local, a própria origem de São Tomé das Letras é uma lenda. Segundo tal, no século XVIII, um escravo fugitivo de nome João Antão refugiou-se em uma gruta para não ser encontrado pelo seu senhor. Esse escravo recebera em uma determinada ocasião uma visita de um velho vestido de branco, e foi para esse velho que ele pedira sua carta de aforria. Aforriado, o escravo voltara à fazenda da qual havia fugido para levar a carta ao seu senhor. O senhor, então, resolveu ir procurar o velho na gruta . Chegando lá encontrou apenas uma imagem de São Tomé. A imagem foi levada para sua fazenda. Mas ela, por milagre, aparecera novamente na gruta. Na entrada dessa gruta haviam pequenas pinturas ou inscrições rupestres semelhantes a letras descoberta em 1782. Foi daí que surgiu o nome de São Tomé das Letras.
O senhor, depois do acontecido, resolveu erguer uma capela em respeito a tal milagre, em 1785. Essa capela se tornou uma igreja, a Igreja Matriz citada anteriormente. A pequena gruta ao seu lado é mais uma das atrações turísticas da cidade. Detalhe: a Gruta de São Tomé fica no centro do município. No topo da mesma pode-se avistar a Igreja Matriz em sua totalidade e mais alguns picos.
Trilhas, grutas e cachoeiras
Aventura é a palavra de ordem nas manhãs e tardes de São Tomé. Pela estrada que liga São Tomé a Três Corações podemos, 4 km a frente, avistar o Vale da Borboletas. Uma pequena caminhada por entre as borboletas azuis chegaremos até a cachoeira. São duas pequenas quedas d’água que formam uma piscina natural entre as inúmeras árvores.
Para os aventureiros sedentos de emoções mais fortes, o caminho mais utilizado é o que liga São Tomé a Sobradinho. São 15 km de chão. Antes de chegarmos a Sobradinho passamos pela Cachoeira da Lua. Seguindo até o destino final chegaremos na famosa Gruta de Sobradinho. Trata-se de uma gruta de formação arenítica, em que encontramos pequenos lagos em seu interior. É recomendável que os aventureiros calcem tênis e disponham de uma lanterna, pois a formação irregular do local e, obviamente, a escuridão total, podem esconder alguns perigos ao longo de seus 100 m. Na saída da gruta encontramos uma bela piscina natural.
Duas outras grutas são bem visitadas em São Tomé das Letras.
A Gruta da Bruxa é uma delas. É necessário uma longa caminhada de 40 minutos em um terreno irregular e, às vezes, íngreme, passando por sobre uma tábua e equilibrando-se, já que baixo passa um rio que corta o caminho. A gruta é recomendada a aventureiros não normais. E magros, diga-se de passagem. Esses tem de caminhar lateralmente em certos pontos. Encontramos, também, uma cratera no local, onde atravessamos sobre uma tábua. Ao final da primeira parte da visita encontra-se uma longa corda. Para os outros aventureiros, a segunda parte. A volta é difícil também. Para sair temos de nos agachar e rastejar pelo espaço mínimo existente. O ar é coisa rara lá dentro. Um detalhe importante é que a gruta solta uma espécie de areia de suas paredes, pois o contato com elas é constante. Além da sujeira causada, rola o perigo de doenças. Basta lavar as mãos e não levá-las a boca e aos olhos. A caminhada de volta pode ser feita por uma trilha, que tem como companhia um belo rio.
A outra gruta é a do Carimbado. Reza a lenda que ninguém conseguiu chegar ao seu fim e, se isso ocorresse, chegaria na cidade de Machu Picchu, no Peru. Para desbravar as grutas de São Tomé é recomendável a companhia de um guia. Existem garotos nos locais se oferecendo para tal.
A cachoeira Véu da Noiva é uma beleza rara, situada na estrada que ruma à Baependi. Uma enorme queda d’água para o mergulho dos corajosos e uma piscina natural para relaxar são os atrativos do local.
Além das cachoeiras encontramos a Corredeira das Ninfas e Shangrillá. A Corredeira das Ninfas é mágica. Quando não estamos na época das chuvas podemos encontrar a corredeira dividida em duas partes: a primeira possui uma água límpida e amarelada que acaba do nada para dar lugar a segunda parte, de quartzitos. Já Shangrillá vemos uma corredeira de água entre rochas, como se fosse um tobogã natural.
São inúmeras cachoeiras e grutas encontradas em todo o território de São Tomé das Letras. Podemos citar ainda as cachoeiras do Cantagalo, do Flávio, Paraíso e Eubiose, com uma longa trilha. A Gruta do Índio também nos faz caminhar por uma longa trilha íngreme.
Ainda não acabou. Muito perto da cidade e escondida fica uma piscina natural cercada pela montanha branca. A impressão que dá é de que estamos em um deserto de pedras e nele existe um oásis.
Estrelas, pôr-do-sol, nascer-do-sol e a lua: da Pirâmide ou do Cruzeiro o espetáculo é garantido
A tarde vem caindo em São Tomé e o sol vai dando espaço a lua e as estrelas. O espetáculo pode ser avistado do alto da Pirâmide, do Cruzeiro ou da Pedra da Bruxa.
Mas antes de subirmos aos picos da noitada temos de nos concentrar. A concentrar acontece nos bares da ruela central da cidade. As bebidas tradicionais são o bom e velho vinho Marcon e a pinga com mel. Ao som de Raul Seixas, Zé Ramalho, rock’n’roll e blues, a noite começa a esquentar no Espaço II, bar que fica ao pé do morro que nos leva ao Cruzeiro.
Àqueles já cansados de comer miojo, uma parada recomendada é na pizzaria ao lado da Igreja Matriz. Pizza na pedra para matar a larica e dar um gás especial para a noite.
Agora sim… já devidamente calibrado vamos aos picos. A Pirâmide é uma construção cuja lenda classifica como um suposto ponto de observação de discos voadores. Na verdade, a Pirâmide é um ponto de encontro da galera. O teto tem o formato de pirâmide e nele podemos sentar, beber e tocar violão para esquentar a noite fria que costumamos encontrar por lá. O vento é tenebroso, pois estamos no topo da montanha. Podemos até pegar as estrelas com as mãos. Mais adiante e num ponto estratégico está o Cruzeiro, local mais alto de São Tomé com 1444 m de altitude. Tanto da Pirâmide quanto do Cruzeiro o visual é fascinante. São 360º de serra, além da pequena cidade lá em baixo. Quando rola uma geada, ao amanhecer, percebe-se a névoa branca cobrindo toda cidade e toda a serra.
O pôr-do-sol pode ser visto também de cima da Pedra da Bruxa. Uma pedra muito alta e grande, escondido ao lado do Cruzeiro. E quem perdê-lo tem como obrigação assistir ao nascer-do-sol. Devidamente agasalhado e enrolado em um cobertor. O visual é fascinante, digno dos aplausos tradicionais dos eternos turistas locais.
O frio ao qual me refiro é encontrado em boa parte do ano. No verão a temperatura deve ser agradável.
Dizem que, por conta das lendas, São Tomé das Letras é ver para crer. Eu digo mais. Todos que levam esse ditado a sério não agüenta a espera para rever e para viver, mesmo que em apenas alguns dias, uma realidade distante do nosso mundo, a paz e o amor.
Autor: Carlos Eduardo Fernandes
Cidade/UF: São Paulo – SP
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