Travessia Petrópolis x Teresópolis – RJ





Já na primeira vez que subi a Pedra do Sino em Teresópolis com 14 anos, encontrei alguns grupos voltando de Petrópolis. Era um feriadão e havia muita gente na Pedra do Sino, desde esta época planejava esta aventura. Subi diversas vezes a Pedra do Sino, e fui me informando sobre a grande caminhada. Tinha que obter o máximo de informações que eu pudesse, já que ir com um guia não me passava pela cabeça, como eram três dias andando, no caso de me perder, as distâncias percorridas erroneamente seriam maiores, e imaginava que não haveria pontos de referência visuais – o que acontece em dias de neblina.

Doze anos depois eu estava lá, li diversas páginas na internet sobre a travessia e vi várias fotos tmbém arrumei um roteiro de pontos mapeados por GPS e estava mais seguro.

Começamos a subir tarde no primeiro dia, por volta de três ou quatro horas e foi muito cansativo, não há quase nenhum zique-zague e a subida é bem íngreme.

Chegamos ao Ajax já noite e um cara que estava acampado lá nos aconselhou a passar a noite e seguir pela manhã, apontando para direção do Açu: “Vocês vão ter que subir essa morraria toda!”. Tínhamos calculado passar a noite já no Açu e o Luizão, olhando para um morro que lembrava o Sumaré, no rio, disse: “- Isso aí a gente faz em 15 minutos!”.

Já tinha se passado umas duas horas e não chegávamos, as mochilas deveriam estar muito pesadas e nós descansávamos um minuto a cada dez metros, minhas pernas estavam um bagaço porque eu não tinha dormido a noite anterior.

Chegamos por volta de 11 horas da noite no cume de um morro bem alto que achávamos ser o Açu, montamos a barraca ali porque havia um gramado e o lugar era meio plano, se o Açu não fosse ali estava bem próximo. A noite estava bem quente e a lua era gigantesca e cheia. No dia seguinte inspecionamos o local e descobrimos que estavamos na base da cruz no Açu, próximo aos Castelos, uma cruz colocada lá em homenagem aos que morreram numa tempestade de raios em 1992.

Visitamos os Catelos do Açu, uma formação rochosa muito alta que se avista da Pedra do Sino em Teresópolis, essas pedras formam uma espeçie de salão em seu interior e há vários lugares para se abrigar ali, inclusive uma parede construída com pedras para barrar o vento.

Ali foi meio complicado achar a trilha para recomeçarmos mas ela fica próximo dos castelos descendo perto de uma fonte de água.

Nosso segundo dia de caminhada foi bem menos cansativo, apesar de andarmos durante o dia inteiro, paramos mais para almoçar, descansar e o caminho não era tão difícil, subimos e descemos uns quatros morros, o que as vezes desanimava um pouco, mas nada tão chato quanto o Açu. Esta nova fase da caminhada exigia muito mais atenção, porque o caminho não era muito claro e nós éramos obrigados a seguir os tótens deixados no caminho, o macete é procurar sempre não perdê-los de vista, pois na montanha, pegar um caminho errado pode ser perigoso.

Tínhamos a vantagem do tempo estar bom, então começamos a distinguir a Pedra do Sino, esta parecia a nós estar tão perto, que duvidávamos se era realmente ela, depois de subir e descer vários morros, verificamos que não era assim tão perto.

Antes de chegarmos ao vale das antas, onde existe água e geralmente se acampa, passamos alguma dificuldade, pois havia um lugar onde a trilha praticamente desaparecia ou se confundia com dezenas de outros caminhos e valas de água e certamente nós saímos do caminho correto, nessa parte o capim era muito alto e afiado!! O que nos obrigou a colocar as camisas de manga comprida e luvas embaixo do maior sol forte, algumas marcas de corte do capim ficaram por muito tempo, pois parece que ele queima a pele. Além disso, tivemos que fazer muito esforço para subir um morro bem íngreme, o que nos deixou exaustos.

Quando avistamos o vale das antas, já dava pra ver um pessoal acampado lá em baixo, mas como chegar? Chegamos, talvez, a um dos pontos mais críticos do caminho. Para o lado direito existia um abismo e para a esquerda o vale, só que simplesmente não víamos o caminho! Estávamos no alto de um morro que lembrava o Morro da Urca e a nossa frente somente um paredão de pedra. O tótem estava lá olhando para nossa cara, como quem diz vai com Deus e não conseguíamos distinguir um caminho seguro. Luizão era o primeiro e disse ter visto um caminho, como eu vinha bem devagar e muito cauteloso por causa da mochila pesada e comprida, estava por último e não conseguia encontrar o caminho que Luizão dizia existir, nem nenhum outro. Comecei a ficar preocupado. Luizão estava determinado a seguir por ali, e não adiantou eu e Filipi pedirmos calma para estudar a situação. Luizão impaciente e teimoso que é, foi em frente, vendo um tótem mais abaixo e traçando uma reta começou a avançar se agachando para se manter próximo a pedra. Vendo aquilo e antevendo uma possível tragédia, quase implorei para ele não ir, dizendo que eu estava com medo, foi o que fez ele pensar. Quase ao mesmo tempo, Filipi, que estava na minha frente, avistou o caminho indo para a direita e fazendo a curva mais abaixo, seguindo rente ao paredão em direção ao vale. Foi o alívio para todo mundo. Mais abaixo, passamos na direção do lugar que Luizão queria descer e vimos que pedra descia num ângulo de quase 90 graus, o que provavelmente faria com que ele escorregasse, rolasse pelo caminho em que nós estavamos agora e continuasse para o abismo. Desde este acontecimento, Luizão é um cara mais flexível.

Chegamos ao Vale das Antas e pedimos informação ao grupo que lá estava, já estava escurecendo e nosso medo era chegar na Canaleta no escuro. A Canaleta é uma fenda na Pedra do Sino, onde existe um ponto que você tem que passar com metade do corpo pra fora da trilha, na beira de um precipício. Certa vez, eu estava na Pedra do Sino com um colega e pegando uma bifurcação na trilha, começamos a andar para ver onde chegaria, começamos a desconfiar que seria o caminho para Petópolis. Depois de algum tempo, a trilha começou a descer bastante, estreitando e contornando a pedra, ao lado o precipício assustava. Estávamos na Canaleta e quando chegamos nesta pedra, não acreditamos que aquilo pudesse ser algum caminho e voltamos. Mais tarde, fiquei sabendo que era. Uma das razões para as pessoas fazerem a caminhada sentido Petrópolis-Teresópolis é esta, pois subir sempre é mais fácil.

O Pessoal que lá estava não sabia informar direito quanto tempo levaríamos até a Canaleta ou se havia algum outro lugar para se acampar antes dela e resolvemos apressar o passo e não parar ali, já eram cinco e meia e o sol já estava baixo. Andamos por muito tempo e ainda nos deparamos com mais uma dúvida no caminho. Já de frente com a Pedra do Sino existia um lugar com um tótem próximo a um buraco, para direita um outro abismo, com pássaros voando lá em embaixo. Depois de procurarmos um caminho melhor e pensarmos um pouco, decidimos que não tínhamos escolha e jogamos as mochilas para a esquerda onde havia uma parte plana e descemos se agarrando pela pedra. Lá embaixo descobrimos a trilha, que agora ficava cada vez mais íngreme. Eu já esperava a Canaleta a qualquer momento enquanto o sol desaparecia, quando finalmente chegamos já estava muito escuro e foi difícil convencer Luizão a esperar pelo dia seguinte. Voltar era desanimador, tínhamos andado, quase duas horas desde o acampamento no Vale das Antas e decidimos acampar naquela trilha de 40 cm de largura, na base da Canaleta tivemos que abrir um pouco a vegetação para poder montar a barraca na parte mais larga que devia ter um metro, mais ou menos de largura, onde dormiram Luizão e Filipi, eu coloquei o saco de dormir numa curva e fiquei a noite inteira me assustando com os roncos do Luizão, pensando ser trovões ou desmoronamentos. Quando consegui dormir, sonhei com a Canaleta.

No dia seguinte acordamos cheios de sede, dormimos novamente em um lugar impróprio e sem água, então começamos a arrumar as coisas para subir logo, tentei dar uma subida pra ver como era e vi que com o coturno escorregava um pouco, voltei e coloquei o tênis, estava estudando uma forma de subir sem a mochila, mas o Luizão se adiantou e ultapassou o obstáculo com a mochila mesmo, depois pegou a do Filipi e a minha. Depois desta parte ainda tivemos algum trabalho, mas foi tranquilo. Mais uma vez eu estava na Pedra do Sino, e a vista do Açu nos recompensou todo o sacrifício.

Autor: Paulo Roberto.
E-mail: xjunior@ig.com.br
Cidade/UF: Rio de Janeiro – RJ

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Mauricio Oliveira: Maurício Oliveira é social media expert, consultor e influenciador de turismo e empreendedor. CEO do portal Trilhas e Aventuras, também conta suas experiências de viagens pessoais no blog Viagens Possíveis. Especialista em Expedições na Rota das Emoções e Lençóis Maranhenses. Ama o que faz no seu trabalho e nas horas vagas também gosta de viajar. Siga no Instagram, curta no Facebook, assista no Youtube.
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