A viagem
A chuva que havia insistido nos últimos dias, resolveu dar uma trégua as vésperas da viagem, criando uma expectativa de que teríamos tempo bom para a travessia, mesmo com as previsões meteorológicas indicando 60% de probabilidade de chuvas nos próximos 3 dias.
Reunimos o grupo e decidimos tocar em frente a nossa expedição. Saímos de São José dos Campos – SP no dia 14/11/02 as 21h30, divididos em 3 carros com destino à cidade de Teresópolis – RJ.
A noite estava muito agradável e sem neblina. Apesar de estarmos bem equipados e treinados, a adrenalina e ansiedade se misturavam a preocupação e receio sobre o desfecho desta aventura, principalmente pela época inadequada. O período ideal para a realização de caminhadas em alta montanha vai de abril a setembro, quando a probabilidade de tempestades elétricas fica bastante reduzida.
A viagem seguiu tranqüila, e a cada parada aproveitávamos para criar uma boa integração com o grupo, já que nem todos se conheciam. A união da equipe continuou com astral elevado até o fim, mesmo nos vários momentos difíceis – perrengues – que enfrentamos durante a travessia.
Estávamos um pouco apreensivos em passar pela Linha Vermelha durante a madrugada, ou de errar o caminho e parar numa favela, por isso andávamos sempre em comboio, os três carros juntos.
Em um determinado momento, dois dos nossos companheiros que estavam no mesmo carro, foram seguidos de perto por um outro veículo que ficou olhando atentamente durante alguns quilômetros. Não passou de um susto, mas creio que os indivíduos estavam mal intencionados.
Chegamos em Teresópolis por volta das 03h30 do dia 15/11/02. Como a noite estava clara, foi possível vislumbrar da estrada o vulto do Pico Dedo de Deus, um dos mais altos (1.692 m) e bonitos da Serra do Mar. Dali a algumas horas estaríamos muito mais altos que ele!
Segundo a nossa logística, deixaríamos os veículos estacionados próximo a Rodoviária de Teresópolis, onde “tentaríamos” dormir até as 6 da manhã, para só então pegarmos o ônibus com destino a cidade de Petrópolis.
Esse percurso é realizado em 01h15 por uma estradinha extremamente sinuosa, passando por vales e pousadas, avistando-se alguns dos maiores paredões de granito da América Latina, procurados por alpinistas do mundo todo que praticam escaladas do tipo “Big Wall”.
Descemos antes de chegar à Petrópolis, mais precisamente no bairro chamado Correias, onde fretamos 3 táxis para nos levar até bem próximo da entrada do Parque. Na verdade, a entrada do Parque é em Teresópolis, porém, optamos por realizar a travessia no sentido Petrópolis – Teresópolis devido a paisagem ser mais bonita, visualizando de frente os vários Picos do PNSO como a Pedra do Sino (2.263 m), Garrafão (2.191), Dedo de Deus (1.692 m), Agulha do Diabo (2.050 m), Escalavrado (1.420 m), etc…
A aventura estava apenas começando…
Na portaria do Parque, tivemos que preencher e assinar um formulário onde cada um assumiu total responsabilidade sobre qualquer acidente ou eventualidade que pudesse acontecer.
Informamos também a nossa previsão de chegada a Teresópolis. Caso o nosso grupo não chegasse no dia previsto, os guarda parque seriam acionados para iniciar os trabalhos de busca e salvamento.
Todo esse controle e preocupação, se deve aos inúmeros casos de aventureiros que sem nenhum preparo se arriscam a realizar um evento desse porte, terminando muitas vezes em desaparecimentos de vários dias ou até mesmo em morte.
Os guardas do parque tem permissão para revistar sua mochila a procura de produtos proibidos como bebidas alcóolicas ou drogas. No nosso caso, não fomos revistados, e os guardas se mostraram simpáticos e educados.
O fato de não encontrar água em todos os pontos da caminhada, nos obrigou a calcular muito bem o quanto levar, nem a mais nem a menos, caso contrário, corre-se o risco de passar sede ou então, não aguentar o peso da mochila. O que você prefere?
Bem, decidimos por levar água em quantidade que fosse suficiente até o morro do Ajax, onde existe uma bica – na maior parte da travessia as bicas d’água não são potáveis, sendo necessário um tratamento com cloro antes de tomá-la – assim, poderíamos reabastecer a partir daquele ponto até os Castelos do Açu, local de acampamento da primeira noite.
Os Castelos do Açu são formações rochosas no cume da montanha, revelando um ambiente místico e ao mesmo tempo um visual indescritível da Baía da Guanabara. Com tempo bom é possível avistar vários picos, dentre eles podemos destacar o Pão de Açúcar, o Corcovado e a Pedra da Gávea.
Começamos a trilha por volta das 09h30, um horário bastante confortável para atingirmos nossos objetivos daquele dia. A subida até a Pedra do Queijo é puxada, em zigue zague, servindo como um bom aquecimento pelo que virá pela frente.
Depois do almoço, seguimos em direção ao Ajax para reabastecermos de água, já que a próxima bica seria alcançada apenas no dia seguinte. E toca pra cima… Do Ajax até a crista da montanha existe um desnível muito grande, chamado de Isabeloca mas nada que um passo atrás do outro não possa superar. Aliás, para quem se dispõe a caminhar em alta montanha, a palavra chave é “superação”, em todos os sentidos.
Dizem os “matutos” da região, que a Princesa Isabel costumava caçar Capivaras nessa região, e quando os escravos a viam, comentavam entre eles: Lá vem a Isabeloca! Se isto é verdade, já não sei responder.
Durante a subida até a crista que leva até ao Açu começou a cair uma chuva fraca, acompanhada de um forte nevoeiro, baixando bastante a temperatura. Hora de tirar os agasalhos e o anorak da mochila.
A caminhada pela crista foi feita com uma visibilidade de aproximadamente 5 metros. Neste ponto é comum a ocorrência de nevoeiro denso, sendo o principal motivo pelo qual muitas pessoas ficam perdidas até que a visibilidade melhore.
O Grupo 1 já havia chegado ao ponto de acampamento, enquanto que o grupo 2 ficou perdido durante 1h30 devido a pouca visibilidade. Com o nevoeiro, os tótens ficam muito difíceis de serem localizados e para nosso azar, fomos parar num capim elefante que nos atrasou ainda mais. Pra quem não sabe, tótens são marcações de pedras indicando o caminho a ser percorrido.
Quem não estava de calças compridas, experimentou os espinhos do “abacaxizinho”, tipo de planta que possui as folhas como se fosse um abacaxi, porém cheia de espinhos. Depois de um tropeção caí de cara num abacaxi desses, mas por sorte, consegui proteger o rosto com o braço. Se eu não estivesse com mangas compridas o estrago poderia ser grande.
Do jeito que caí fiquei, pois na posição em que estava não conseguia me apoiar em nada para me levantar, só haviam os malditos abacaxizinhos ao meu redor e além disso, o peso da mochila não estimulava a qualquer tentativa de sair daquela posição ridícula sozinho.
O jeito foi pedir a alguém me ajudasse a ficar novamente em pé. Mais tarde foi outro integrante do grupo que passou por situação semelhante, mudando apenas a posição, parecia um jabuti de pernas pra ar.
Pelo rádio, tivemos a notícia de que um dos integrantes da equipe havia torcido o tornozelo, colocando em dúvida a continuidade de nossa travessia até Teresópolis. Confesso que senti um grande alívio quando avistei o local do nosso acampamento já com as barracas do grupo 1 montadas.
Montamos as nossas barracas rapidamente pois já estava começando a escurecer, e além disso, o frio estava nos castigando. Preparamos a janta, e por volta das 19h30 já estávamos todos dentro das barracas…exaustos. Nesse dia caminhamos cerca de 9 horas.
A noite estava bonita e o céu estrelado, podendo ser visualizada grande parte da Baía da Guanabara e a cidade de Niterói toda iluminada. Por alguns momentos a gente até esquece o cansaço.
As 21h30 começou uma chuva fina acompanhada de um vento fraco, que em pouco tempo se transformou em uma tromba d’água que deixou todo mundo em estado de alerta. Mais tarde, além de muita água, caía também granizo e o vento chegou a incríveis 100 km/h !
Por algumas vezes pensei que iria voar montanha abaixo junto com a barraca.
Estávamos a quase 2.200 metros de altitude pegando o vento de frente, praticamente sem proteção, a não ser a própria barraca. Para piorar a situação que já era crítica, os raios começaram a pipocar por todos os lados, iluminando todo o cume da montanha. Era a famosa tempestade elétrica de que tanto tínhamos receio.
Algumas de nossas barracas por possuírem varetas de alumínio, possibilitam uma maior atração aos raios, fazendo com que seus “moradores” ficassem ainda mais apreensivos. Quem estivesse ao longe visualizando esses “efeitos especiais”, deveria estar presenciando um belo espetáculo, mas para quem estava lá em cima … não foi brincadeira.
Sem dúvida a noite foi longa, e o temporal só terminou por volta das 4 horas da madrugada. Nem é preciso dizer que ninguém conseguiu dormir. Quem estava em falta com as rezas, nessa noite ficou em dia!
Soubemos mais tarde, que um grupo de montanhistas que estava acampado do outro lado do Açu, refugiou-se as pressas sob as pedras, pois suas barracas foram destruídas pelo vento.
Quando alguém passa a noite utilizando apenas recursos naturais de proteção ou até mesmo ao relento, dá-se o nome de “bivaque”. Essa prática é muito comum em alpinistas quando escalam grandes picos que demoram vários dias para se alcançar o cume, sendo obrigados a dormir literalmente pendurados na rocha, apoiados apenas em espécies de macas chamadas de “portaledges”.
Próximo ao local onde estávamos acampados, existe uma cruz em homenagem a um grupo de montanhistas mortos em uma tempestade elétrica no ano de 1992. Ninguém estava interessado em ser motivo para a instalação de mais uma cruz, desta vez em nossa homenagem!
O Sábado amanheceu muito bonito, sem nenhuma nuvem no céu, mas o frio continuava intenso. Das 5 barracas, apenas 2 ficaram ilesas ao temporal, sendo a mais prejudicada onde estavam a Carmen e o Carlos. Os dois passaram a noite toda encolhidos em um canto debaixo de um saco plástico… encharcados e com muito frio. O sobreteto da barraca deles soltou-se com o vento, deixando-os totalmente expostos ao mau tempo.
Primeiramente, optamos por retornar a Petrópolis já que estávamos com 3 pessoas “impossibilitadas” de prosseguir viagem: duas com todos os equipamentos molhados, o que causaria um peso extra na mochila, e outro com o tornozelo inchado devido a torção. O desânimo foi geral.
Depois que tudo estava arrumado novamente dentro das mochilas, fizemos uma rápida reunião e decidimos que continuaríamos a travessia, já que o Rodrigo que havia torcido o tornozelo, garantiu que poderia andar (teria que andar mesmo se fôssemos retornar, então, que andemos pra frente), no caso dos “sem teto” ficou decidido que dormiriam em outras barracas, ou até mesmo no Abrigo 4, que seria o nosso próximo ponto de acampamento. A alegria foi geral!
Dos Castelos do Açu até o Sino
São 23 km de distância de uma trilha bastante técnica, exigindo do montanhista bom conhecimento em orientação e navegação. No segundo dia de travessia, grande parte da caminhada é realizada sobre enormes maciços, o que dificulta bastante a navegação, pois é praticamente impossível deixar algum rastro por onde se passa.
Por isso mesmo existem os tótens ou marcos deixados por outros montanhistas, para auxiliar na indicação da direção correta a ser seguida. Pelo menos deveria! Nesse dia tivemos uma decepcionante constatação: muitos tótens são falsos e não levam a lugar algum, pior que isso, alguns conduzem a verdadeiras armadilhas onde a pessoa pode correr risco de vida, como aconteceu com um dos integrantes do nosso grupo, que ficou preso em um abismo depois de seguir as indicações nas pedras deixadas por algum irresponsável, necessitando ser “resgatado” por duas pessoas, caso contrário, seria muito difícil sair sozinho do ponto em que estava.
Ouvi dizer que os responsáveis por essa prática totalmente condenável são pessoas que conhecem muito bem o local, e cobram valores exorbitantes por pessoa resgatada. Não quero acreditar nessa hipótese, porém… Se somarmos o tempo das várias vezes que nos perdemos nesse dia, dará algo por volta de 3 horas!
Quando se está realizando uma travessia como esta, o tempo é fundamental, pois o ideal é chegar aos pontos de acampamento ainda com a luz do dia, caso contrário, o risco de não encontrar a trilha a noite ou até sofrer um acidente grave aumentam consideravelmente. Tivemos que apertar o passo e diminuir as paradas de descanso, para tentarmos chegar ao Abrigo 4 ainda com a luz do dia. Apesar do nosso esforço, não foi possível.
Dos Castelos do Açu até o Morro do Marco não existem muitos obstáculos, a não ser uma subida que pode ser realizada sem maiores problemas. A vista que se tem deste ponto da Baía da Guanabara e a cidade de Niterói é indescritível. Dá vontade de ficar horas e horas olhando o horizonte, descobrindo os detalhes que vão surgindo aos poucos.
Estávamos caminhando tranqüilos, seguindo os tótens em direção a próxima montanha chamada de Morro da Luva, quando depois de atravessarmos um mar de capim de anta com touceiras de 2,5 metros de altura, percebemos que tínhamos caído em outra armadilha.
Apenas para esclarecer, o capim de anta além de possuir folhas muito cortantes, também irrita bastante a pele provocando um forte ardor. Imagine abrir caminho no peito por cerca de 300 metros num mato desses! O calor era infernal e sufocante, devido principalmente a altura do capim.
Outra preocupação constante enquanto andávamos, era com as valetas que ficam ocultas no meio do mato. Essas valetas podem ter profundidades onde um tombo num buraco desses poderá trazer conseqüências bastante desagradáveis.
No final de 2 horas estávamos todos, sem exceção, cansados, cortados, com a pele ardendo e xingando uma barbaridade. Todos os dias por volta das 15h30, a pressão atmosférica indicada pelo barômetro começava a cair, indicando mau tempo a caminho. Por várias vezes pegamos chuva e nevoeiro, o que não diminuiu em nada a beleza do lugar.
Do Morro da Luva até a Cabeça do Dinossauro existem alguns pontos de difícil transposição, exigindo muita atenção e cuidado. Antes da ponte que dá acesso a Cabeça do Dinossauro, foi construído um corrimão para dar segurança ao se passar por uma pedra molhada com grande inclinação. Segundo ouvi dizer, essa proteção foi criada após a queda de um montanhista. Sim, infelizmente a queda foi fatal.
Outra passagem muito perigosa, é a subida de uma escada feita de grampos na pedra – quem já subiu a Pedra do Baú em São Bento do Sapucaí sabe do que estou falando. Acrescente a isso uma mochila pesando cerca de 20 kg e já estar caminhando a horas para ter uma idéia da situação. Um escorregão nesse ponto, e na melhor das hipóteses você sofrerá uma bela fratura exposta. Na melhor das hipóteses!
O próximo ponto à ser alcançado era o Vale das Antas, e pela informação que nos foi dada por um trekker que passou por nós, a chance de se perder nesse local era muito grande, devido a caminhada ser feita em grande parte por sobre um maciço. Passamos a confiar totalmente nas coordenadas informadas pelo GPS que se mostrou preciso e de grande utilidade.
O problema de se guiar utilizando um GPS é que ele sempre aponta o local a ser alcançado através de uma linha reta imaginária. Sendo assim, se o dia estiver limpo tudo bem, porém se houver muito nevoeiro fica difícil encontrar a trilha. O mesmo acontece a noite ou em caminhos fechados pela mata.
Não podíamos nos dar ao luxo de perder tempo novamente procurando a trilha, senão teríamos que acampar no Vale da Morte ao invés do local programado, decisão essa que não agradava a ninguém, pois como o próprio nome já diz, Vale da Morte não é um local muito convidativo para se passar a noite.
O Cavalinho
O relógio já marcava 17h30 e ainda teríamos que enfrentar alguns obstáculos difíceis pela frente. O frio, a chuva e o nevoeiro mais uma vez nos acompanhavam. Mais uma subida árdua até chegar ao famigerado ponto chamado de “Cavalinho” (fig. anexa).
Ninguém nem queria pensar em tentar transpor esse obstáculo sem a luz do dia, pois realmente não é fácil, principalmente se levarmos em conta já termos caminhado por volta de 10 horas de subidas e descidas extremamente íngremes… e chovendo.
Bem, o Cavalinho são vários lances de subida verticais na rocha, na encosta na Pedra do Sino, onde no ponto mais difícil você precisa realizar um movimento muito parecido com a montaria em um cavalo. Um conselho: nesse ponto, nunca olhe para baixo!
Eu já estava com as minhas energias completamente esgotadas, e não conseguia dar mais um passo sequer. A minha pressão arterial baixou de vez, e eu fiquei por ali, sentado, tomando chuva e comendo bolacha salgada por algum tempo até conseguir juntar forças para continuar o caminho.
Quando o organismo dá sinais de que necessita de descanso, não adianta querer ignorar. Não há força de vontade no mundo que faça “ele” mudar de idéia. Nessas horas é preciso ter bom senso antes que qualquer coisa. Outro integrante do grupo permaneceu comigo até me sentir melhor.
Nunca, em nenhum momento, houve caso de algum membro da equipe permanecer sozinho durante a travessia. O espírito de equipe foi muito grande em todo o trajeto, aliás, como deve ser.
Tínhamos apenas 15 minutos de claridade. A última caminhada do dia foi realizada à noite. A imagem era até bonita, não conseguíamos nos ver, apenas as “head lamps” que pareciam flutuar em meio a mata de uma noite escura e com uma neblina muito espessa. Ahh claro, já ia me esquecendo, ainda chovia!
Chegamos ao Abrigo 4 por volta das 19h45 completamente exaustos, famintos, com frio, molhados e realizados. Apesar de tudo, a sensação de ter atingido mais um objetivo é altamente gratificante. Por várias vezes me peguei praguejando em voz baixa aos quatro ventos durante a travessia, geralmente nas subidas: Maldita hora que eu fui inventar essa aventura!
Porque não ficar quieto, no conforto de casa, com a mulher, família, cama macia, chuveiro quente, comida gostosa e protegido do mau tempo ? Pois bem, tudo isso passa a cada obstáculo vencido. Até o comentário muda: Imaginem só, fulano prefere ficar acomodado em casa, vendo televisão ao invés de encarar uma experiência como esta. E por aí vai…
No acampamento estávamos seguros e protegidos do vento e dos raios, mesmo estando ainda a 2.131 metros de altitude! Quando estávamos todos sentados recuperando um pouco o fôlego para começar a montar as barracas, o Carlos sugeriu que continuássemos a caminhada até o acampamento 3, pois assim teríamos que caminhar menos no dia seguinte até a portaria do PNSO.
Isso implicaria em mais 1 hora de caminhada no mínimo – essa é a média do tempo que se leva com a luz do dia – porém, realizar esse trekking cansado, no escuro e chovendo, creio que levaríamos umas 2 horas no mínimo, ou seja, a previsão de chegada seria lá pelas 10 horas da noite.
Gritamos um NÃO em coro, e começamos a montar as barracas rapidamente para que não houvesse dúvidas. Democracia é assim mesmo não é? Havia no acampamento algumas barracas, e durante a noite outras chegaram. Muitas pessoas vem de Teresópolis apenas para acampar no sopé da Pedra do Sino, retornando no dia seguinte.
De todos que estavam no acampamento, apenas o nosso grupo estava realizando a travessia. Montamos as barracas debaixo de uma garoa grossa e intermitente, colocamos as roupas secas e alguns fizeram a janta, outros de tão exaustos foram direto para o sleep, ou melhor, saco de dormir. Interessante como nessas horas o cansaço se sobrepõe à fome! A noite foi bastante tranqüila, sem vento e sem sustos.
“Existe uma lenda de que um cavalo mau assombrado fica relinchando durante a noite assustando as pessoas que ficam ali acampadas.” – Se ele apareceu, ninguém viu… coitado!
Os “sem teto” – lembram deles, resolveram pernoitar no Abrigo 4 – um chalé com vários beliches, chuveiro quente e banheiro, onde se pagando uma taxa de R$ 25,00 é possível passar uma noite mais confortável. E quem disse que nós queríamos conforto!
Eles tiveram que optar pelo abrigo porque seus equipamentos estavam molhados e sem condições de uso devido a noite anterior. No abrigo moram alguns guarda parque, que quando nos viram chegar, vieram rapidamente perguntar se fazíamos parte do grupo que estava realizando a travessia e se alguém necessitava de cuidados médicos. Agradecemos a atenção e informamos que felizmente estávamos todos muitíssimo bem.
A volta
O dia novamente amanheceu muito bonito mas dessa vez sem frio. Colocamos tudo para secar, e depois de um café da manhã caprichado, entramos novamente na trilha em direção a Teresópolis. Não existem mais subidas, porém, são 7 km de descida que faz as articulações dos joelhos ferverem!
É um desnível de aproximadamente 1.400 metros num zigue zague que parece não ter fim.
Chegamos a portaria do PNSO ás 13h30, e depois de manifestarmos nossa indignação com relação aos tótens falsos, fomos pegar um ônibus que nos levaria até o ponto de onde havíamos deixado os carros.
Hora de ligar para casa e matar a saudade, afinal de contas foram 3 dias sem contato com a “civilização”. Feito isso, o momento mágico de que tanto esperávamos estava muito próximo: CHURRASCARIA!
Assim que chegamos ao restaurante o garçom logo disparou: vocês fizeram a travessia? Pelo nosso estado e aparência não restava a menor dúvida: alguns mancavam com bolhas nos pés, outros com os joelhos inchados, o cabelo parecia uma corda de sisal, o odor decididamente não era de perfume francês – some 3 dias sem tomar banho, suor correndo em bicas, passagens por pântanos e charcos, braços e pernas cortados e esfolados pelo maldito capim de anta, e claro, o barro preto sob as unhas das mãos nos dava um certo aspecto que parecia uma mistura de gambá com ratão do banhado. Os bichinhos que me desculpem a comparação.
Até entendi porque o garçom nos preparou uma mesa bem no cantinho do restaurante, próximo a uma janela com corrente de ar. O Carlos como é vegetariano foi de pizza mesmo, enquanto nos olhava com certa restrição devorando picanhas e coraçõezinhos de frango.
Depois de empanzinados, pegamos a estrada de volta para casa. No caminho, o tempo aprontou mais uma surpresa. O calor estava muito forte com um sol ardido – sol de chuva – quando de repente caiu um temporal na estrada formando um arco-íris com as cores muito fortes e com seu arco completo.
Foi uma condição climática estranha. Um temporal muito forte e ao mesmo tempo um sol de rachar. Achei aquilo meio esquisito! Ainda houve tempo para vislumbrarmos da estrada o Pico das Agulhas Negras, as Prateleiras e o Pico dos 3 Estados.
A viagem de volta foi tão tranqüila quanto a ida, porém, apesar dos percalços que passamos durante a trilha, estávamos todos contentes por mais essa realização.
Até a Serra Fina… se Deus quiser!
Autor: Miguel Ribas.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: Rio de Janeiro – RJ
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