O Caminho Francês para Santiago esta cada vez mais perto. Não é preciso mais 40 dias para percorrer todo o trajeto, basta ir de bicicleta e em 15 dias você chega lá. A novidade é que elas estão cada dia mais presente pela rota. Hoje em dia é possível desmontar, embalar e levar uma bicicleta do Brasil para Espanha sem custos extras. Em um mala-bike próprio, ela pesa cerca de vinte quilos, o que não difere muito de uma mala de um turista normal a não ser pelo tamanho.
A rota tradicional, e preferida dos brasileiros, tem quase 800 km e começa na cidade francesa de Saint Jean Pied de Port, nos Pirineus e percorre o norte da península ibérica passando por Pamplona, Burgos, Leon entre outras grandes cidades. A mecânica e fácil, basta achar a rua central do centro histórico de Saint Jean, procurar pela seta amarela e seguir em frente. Os albergues e cidades irão aparecendo ao longo do caminho . Estando de bicicleta, é preciso ter um guia para saber quando o caminho fica muito complicado para as magrelas com alforjes e buscar alternativas. O trajeto foi definido ao longo de centenas de anos por peregrinos que o percorriam a pé ou a cavalo. Por isso, sobre duas rodas muitas vezes é preciso descer e empurrar. Para evitar isso, o guia se faz necessário. Ele oferece alternativas e o tipo de caminho à frente, assim como a altimetria. O mapinha em questão é o editado pela região da Galícia e distribuído gratuitamente pelo escritório de turismo espanhol em São Paulo. Lá também, você encontrara uma relação de albergues oficiais. Fora os relacionados, há ainda os privados, além de hospedagens que garantem o seu sono de todas as noites.
Para quem nunca viajou sobre duas rodas é necessário um período de preparação antes da partida. Pedalar com alforje e em trilhas exige um aprimoramento técnico, mas nada que não possa ser feito aos finais de semana. Além disso, a bici, como dizem os espanhóis, deve ser própria para suportar trilhas e trajetos longos (leia no Box). No mais, o que fica faltando é apenas a decisão de ir. Foi o que fez a carioca Regina Thurler há oito meses. Depois de voltar a pedalar e ficar sabendo que o caminho era viável para pessoas como ela, que só tem vinte dias de férias, esperou o inverno europeu passar e percorreu a trilha em dezoito dias. “Não queria esperar me aposentar para poder realizar um sonho” completa Regina.
Tudo começou com uma luz
A peregrinação á região antigamente chamada de Finisterra teve início quando, na idade média, pessoas relataram terem visto luzes do bosque onde eremitas guardavam o corpo do Apostolo Tiago. Seguindo as orientações de Jesus, Tiago foi pregar nessa região após a ressurreição. Voltou a Judéia anos depois onde foi perseguido e morto. Seu corpo devia servir às feras, mas foi resgatado por discípulos que o levaram de volta à Finisterra. Por séculos ficou sepultado num bosque de difícil acesso até os relatos das luzes. A notícia se espalhou rápido e os peregrinos começaram chegar ao que ficou conhecido como Caminho de Santiago de Campo Estela.
O aumento da peregrinação fez os reis católicos transferirem o santo sepulcro do apóstolo para a atual catedral. Os caminhos que levam a Santiago foram descritos pela primeira vez no Codex Calixtinus do século XI. Sendo já naquela época, o Caminho Francês o principal deles. Hoje cerca de 100 mil peregrinos vão a Espanha todo ano.
Reencontro
Os objetivos dos peregrinos modernos são diferentes dos de outrora. Hoje fazer o caminho esta associado a um reencontro com o modo simples de viver e com o seu eu. A religiosidade do caminho ajuda a poder esquecer todos os entraves da vida moderna. Muitos relatam que são necessários uns cinco dias para a mente conseguir desligar do mundo globalizado. Isto apesar de todo relativo conforto que já é possivel encontrar na rota.
Mas as comodidades só aparecem na hora de ir para a cama. Ir de um albergue a outro ainda requer muita determinação dos peregrinos. É justamente aí que o caminho começa a agir. Quem ainda não esta preparado mentalmente para entender a vida na sua maneira básica, geralmente não consegue faze-lo por inteiro. Muitos chegam preocupados com as pernas, mas é a cabeça que faz as coisas se complicarem. É neste ponto que a bicicleta ajuda. O desgaste geral é menor, mas alguns morrinhos colocam a prova toda a determinação do ciclista e ainda cobra algumas penitências.
Turismo e cultura
Para ajudar, beleza e história pontuam o dia-dia dos peregrinos. São basicamente três regiões distintas que ficam na lembrança: as montanhas perto dos Pirineus e país basco, o “reino” de Castilha e Leon na parte intermediária onde encontramos Burgos e Leon com suas catedrais imponentes e a Galícia que abriga a Santiago de Compostela.
Na primeira parte o destaque são as cidades medievais muito bem conservadas de Estella, Viana e Puente de la Reina. Nestes locais é possível vivenciar como era a vida de séculos atrás. Além das cidades, esta parte ainda engloba a região vinícula de La Rioja, renomada mundo afora pela qualidade de seu vinho.
Na parte central e plana do trajeto, mais do que as duas grandes cidades, o imperdível é Astorga com seu museu municipal em um prédio projetado por Gaudi. O fim deste trecho é marcado pela Cruz de Ferro, local preferido pelos peregrinos para deixar sua marca, ou melhor, sua pedra.
A Galícia, começa com a última subida exigente do percurso que culmina no Cebreiro, onde o mosteiro beneditino é a grande atração. Mas em se tratando de mosteiro, o de Samos não pode ser deixado de lado, principalmente por quem esta de bicicleta, já que o melhor caminho para duas rodas passa em frente à porta do mosteiro. Apesar de sua imponência, que é lembrada pelo tamanho do carimbo do local, ele guarda a relíquia histórica mais antiga do percurso. Uma porta romana do século IV que resistiu ao tempo e as inúmeras reformas do local. A última parada antes de abraçar a imagem de Tiago no altar da Catedral é no Monte do Gozo. Lá um monumento em homenagem ao Papa peregrino João Paulo II marca praticamente o fim da viagem. Um albergue de oitocentas camas funciona como concentrador para a chegada a cidade na manhã seguinte para a Missa dos Peregrinos que acontece todos os dias ao meio dia, marcando o fim de uma jornada de reencontro com a vida.
Começando o Caminho
A bicicleta e o ciclista precisam ter condições mínimas para fazer esta viagem. Da parte propulsora, ou seja, o ciclista, a condição básica é estar conseguindo pedalar em torno de 60 km num único dia por dois dias seguidos. E ainda, um mês antes de partir é aconselhável passar a pedalar com os alforjes carregando algum peso. E relembrando que a carga ideal para levar no caminho não passa de dez quilos.
Com relação à bike, deve ser uma de montanha em alumínio e desmontável. Além disso, as partes de maior desgaste, tais como eixos, rodas e catracas, devem ser de qualidade para suportar terrenos diversos e distâncias maiores que mil quilômetros. A melhor maneira de saber qual o melhor equipamento é trocar informações com cicloturistas. Uma boa fonte de informação e ponto de encontro com outros aventureiros é o site ondepedalar.com
Depois é só entrar em contato com o pessoal do turismo espanhol para solicitar os guias, com a Associação de Santiago para a credencial e “Bon Camino”
AACS – www.santiago.org.br
Oficina Española de Turismo – (11) 3675.2000Esta viagem contou com o apoio da Oficina Española de Turismo e da Ibéria – Linas Aéreas de Espanha
Autor: Marcelo Rudini
E-mail: [email protected]
Site: http://ondepedalar.com
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