Embarquei num barco com um grupo de amigos e descobri as delícias de um livre aboard. Finalmente apareceu o tão sonhado feriadão de quatro dias, em outubro, e lá fomos nós para o Titan, uma lancha de 60 pés e de muito conforto. Saímos de São Paulo num ônibus fretado em direção à Paraty, às 21:00. Nosso grupo era formado por 20 pessoas ao todo. Para distrair o pessoal, escolhemos um filme adequado: Imensidão Azul, que começou a colocar os viajantes no clima de aventura. Eram duas horas da madrugada quando chegamos ao pier. Foram cinco horas de expectativa e ansiedade, pois estávamos loucos para mergulhar. Para ganhar tempo e nos organizarmos melhor, fizemos um mutirão e em meia hora já estava tudo no barco: 80 cilindros, 20 sacolas de mergulho e um compressor. E como ninguém é de ferro, fomos dormir para descansar dessa primeira etapa cansativa com o barco na altura da Ilha Grande. O programa do dia já estava traçado. Iríamos mergulhar na Ilha do Jorge Grego, do lado de fora da Ilha Grande.
Por se localizar numa região mais afastada, esta ilha, que permite mergulhos de 15 a 30 metros, tem sua fauna e flora praticamente intactas, proporcionando encontros com várias raias, moréias, polvos, lagostas e garoupas enormes. Após o mergulho da manhã, devoramos uma bela lasanha e embarcamos numa soneca, pois todos estavam ainda cansados.
Como a beleza do primeiro mergulho fascinou a todos, decidimos repetir a dose no mesmo local, para só então partirmos para a enseada do Sítio Forte, onde tínhamos programado um churrasco noturno. Foi um dos pontos altos da viagem. Entre cervejinhas e refrigerantes, passamos algumas horas agradáveis. Colocamos várias tochas ao redor da mesa, dando um toque especial ao ambiente. Para sentarmos, utilizamos alguns bancos de areia. Não precisávamos de mais nada. A festa estava pronta. Mesmo depois de toda aquela carne, ótima, diga-se de passagem, ainda estávamos dispostos e decidimos encarar um mergulho noturno no parcelzinho do Sítio Forte, finalizando assim o nosso primeiro dia. Domingo foi a vez dos naufrágios. Depois do café da manhã reforçado, com café, leite, pão com manteiga e presunto, ancoramos sobre o Pinguino, o mais tradicional dos naufrágios da Baía da Ilha Grande. Por se tratar de um acidente muito antigo, sugerimos a todos que não fizessem penetrações dos porões de carga, que ainda estão bastante seguros. O restante, infelizmente, já está comprometido. Trata-se de um barco de ferro de porte médio – cerca de 65 metros mais ou menos. Há determinadas partes da embarcação que podem ruir com o simples toque das nadadeiras. A passagem para a cabine de comando, por exemplo, era um risco que deveria ser evitado. E como cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, ficamos somente nos porões. Nem por isso o mergulho foi menos empolgante. O piso do barco está coberto por um tapete de algas, que mais parece um gramado de campo de futebol. Mas há o lodo. Quem mergulhar e quiser se aproximar do piso, deve fazê-lo com cautela, sem bater muito as nadadeiras, caso contrário pode ocorrer uma suspensão e aí a visibilidade ficará totalmente prejudicada. E então não vai adiantar nada se lamentar.
Em seguida nos dirigimos para a Praia Vermelha, onde se situa um outro naufrágio, o Califórnia, que está bastante espalhado, o que tornou o mergulho muito fácil. A diferença, nesse tipo de naufrágio, é que não há o casco do barco, totalmente destruído pelo mar. No Califórnia a gente perde aquela sensação gostosa e mística de estar entrando num barco naufragado. E, compensação a exploração é muito fácil e tranqüila, não há riscos de desmoronamento e pode-se deitar e rolar. Os objetos estão à mão, o que não ocorre no Pinguino.
Fim do mergulho e início de um animado jogo de vôlei na praia, com muita correria, areia e suor, e uma técnica que fariam nossos medalhas de ouro, Maurício, Tande e Geovani, tremerem de medo ( e de rir!). Mas Valeu a brincadeira. Ninguém estava ali para uma competição. O objetivo do jogo era um só: bater na bola e colocá-la o mais rapidamente possível do outro lado da rede para que o adversário, por si só, se atrapalhasse e a deixasse cair. Rimos muito uns dos outros. O menu da noite foi um rondelli aos quatro queijos, prato que fez a alegria dos esfomeados sob estímulo de um dia de mergulho. Esperamos a digestão e partimos para o mergulho noturno no próprio Califórnia. É um outro ambiente, totalmente diferente do que encontramos durante o dia, principalmente se levarmos em conta a fauna marinha. Polvos, carangueijos, pequenos linguados e simpáticos cavalos marinhos povoam a área, fazendo do naufrágio do Califórnia um dos melhores mergulhos noturnos da Ilha Grande.
A segunda-feira começou com um mergulho gostoso na Laje Branca, que oferecia uma visibilidade mais do que perfeita de aproximadamente 20 metros. Foi uma ótima experiência. O grupo aprovou mas dava sinais de fome ao retornar. Nosso almoço foi um filé à parmegiana. Enquanto comíamos, antevíamos o passeio da tarde, na Gruta do Acaiá. Trata-se um buraco com ar, no meio do costão, onde se pode bater um papo tranqüilo durante o mergulho. Um pouco acima da gruta se encontra o bar do Acaiá, que serve mariscos e camarão frito. Nada mal, não é mesmo?
Zarpamos então de volta à Paraty e fomos dormir na Ilha da Cotia, um lugar que mais parece uma lagoa. Devido ao cansaço geral, optamos democraticamente por assistir a um vídeo em vez de fazer o mergulho noturno. O jantar, como sempre, foi de primeira e servido pelos capitães Charles e Garcia. O nhoque à bolonhesa estava delicioso. Impossível resistir. Depois, decidimos relaxar com uma boa sessão de piadas, comandada pelo próprio Charles, que tem um repertório inesgotável. É capaz de passar horas e horas divertindo a gente. O show nos fez esquecer que o final da viagem se aproximava. No último dia saímos para Laje dos Meros, para um mergulho muito bonito de 27 metros. Para não perder a animação geral, emendamos com a Ilha dos Meros, com um mergulho na grutinha que existe ali. Almoçamos um peixe assado e voltamos ao pier, de onde partimos com destino a São Paulo, às quatro horas da tarde, novamente em nosso ônibus. Chegamos às 22 horas, cansados mas extremamente satisfeitos, felizes e loucos pela próxima saída do Titan.
Autor: Fabiano Halis Menezes Costa.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: Paraty – RJ
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