Viagem à Amazônia com Lama Gangchen Rimpoche

É realmente um privilégio a oportunidade de vivenciar a virada de um milênio. Por isso quis fazer uma viagem ousada, completa, que tocasse não só o meu coração, mas também a minha alma. Nada mal comemorar a chegada do milênio viajando de barco pelas águas da Amazônia, com um Lama Tibetano.

A expedição foi organizada pela aachaa (Associação de Artes Curativas Himalaia Andes Amazonia). Foram 10 dias de viagem, dormindo em redes, acompanhada pelo Lama Gangchen Rimpoche. Navegamos pelo Rio Tapajós, Arapiuns e Amazonas, visitando comunidades ribeirinhas e parando em praias desertas para recebermos os sábios ensinamentos do Lama.

Tudo me emocionava: a imensidão da Amazônia, os momentos divididos com as comunidades e a honra de desfrutar uma relação quase íntima com o Lama Gangchen. Suas palavras doces nos conscientizava de quão privilegiados éramos por estarmos ali, trabalhando a harmonia dos 5 elementos no nosso ambiente interno e externo, em contato direto com uma das paisagens mais lindas do planeta.

Com todas as práticas, passei a entender mais as manifestações da Floresta. Me aventurei em pedir à organização para dormir na comunidade que estávamos visitando ao invés de voltar para o barco como todas as outras pessoas.

Me ofereceram então a casa que o Lama iria se hospedar no dia seguinte: uma casa rústica, no meio da Mata Amazônica, cujo o acesso era só de barco, na beira de um igarapé de águas transparentes. Apesar da pouca luz das velas, não me esqueço do corrimão da escada que era feito de cipó.

Por estar sozinha, desfrutei de cada detalhe daquela mata com propriedade. Com o meu silêncio, pude escutar com clareza a sinfonia dos bichos noturnos e até identificar de onde vinha os gritos dos macacos que não paravam de se manifestar.

Raras vezes me senti tão feliz em saber que por algumas horas eu tinha aquele santuário só para mim, e foi na primeira noite do milênio, sozinha em plena Floresta Amazônica, que tomei o banho de lua mais lindo e selvagem da minha vida.

A Amazônia é um mundo a parte. Viajar lá é uma aventura: exige atenção, tempo, depende-se das condições climáticas e a comunicação ainda não garante a agilidade necessária caso aconteça um imprevisto.

Sentimos isso na pele: estávamos voltando de uma apresentação circense na comunidade de Suruacá, quando o tempo virou e dificultou o nosso acesso ao barco, pois a nossa voadeira estava sendo utilizada no resgate de um nativo que acabara de sofrer um derrame. Por isso tivemos que andar horas na praia à noite em direção ao ponto mais próximo do barco sendo iluminados pela claridade dos relâmpagos que trouxeram uma chuva forte. Cada um interpretou aquela situação de maneira muito particular, mas a aventura maior era saber que todo o nosso sacrifício era para tentar a salvar a vida do nativo que estava sendo cuidado pelo Lama e por um médico no nosso barco. No final todos foram resgatados com sucesso e o nativo não morreu em nossas mãos.

Não tenho dúvida que todo o trabalho espiritual desenvolvido com o Lama foi fundamental para o sucesso dessa aventura e que depois dessa viagem, sou uma pessoa mais saudável, tanto de corpo quanto de alma.

Autor: Laís Fleury.
E-mail: [email protected]
Cidade/UF: São Paulo – SP